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"E foi aí que tive a certeza, que mesmo sobre todos aqueles sofrimentos eu tivera feito a escolha certa. Eu sabia que desde o começo o cara com que estou agora é o cara certo. Não para namorar por um tempo indetermindo, mas para estar por toda uma vida. Mas soube disso, somente quando, prematuramente, me entreguei a ele.
Eu tinha certeza que era ele, como sempre soube no meu íntimo que seria, pois ele me envolvia numa sensação mágica, de que cada minuto ao seu lado seria mágico, assim como foi. Eternizei cada segundo, porque tudo era uma experiência nova. Pela primeira vez na vida eu estava ao lado de um cara que tinha orgulho, que admirava, e que finalmente achava bom o bastante para mim, até mesmo, muito mais que o bastante. Agora era eu quem assumia, como já dito anteriormente, a posição inferior, era eu quem deveria mostrar merecedora dele, era eu quem não deveria ser infantil.
Eu envolvi nosso relacionamento num sonho mágico, da qual não queria despertar nunca.
Me sentia incomensuravelmente insegura, criança e infantil. Sofria por isso, e muitas vezes o ciúmes me assolou, ciúmes do passado, porque eu era virgem, pura, inexperiente, e sempre segui a risca todas as regras. E me sentia estúpida por isto. Tinha medo de ser enganada, traída, trocada, não sei. Porque me doei de mais para este romance, mudei todos os meus caminhos traçados, desesti de todo um percurso que eu estava fazendo para viver o que estava para viver agora, com um cara que admirava tanto, e que, com sua simples presença me dava um impacto absurdo. Muitas vezes, ao seu lado, não soube onde por as mãos, o que falar, fazer, ficava até certo modo me controlando para que ele não percebesse o quão sem graça eu era/sou. Eu tinha medo de fazer alguma coisa errada, e ele ver que eu não era capaz de fazê-lo feliz, embora eu fosse capaz de ser feliz apenas por estar ao lado dele.

A gente não tinha muito assunto, e para preencher o vazio, nos beijávamos. E até mesmo o beijo era diferente, totalmente diferente de todos os que já experimentara, e com o tempo incrivelmente bom, porque combinava com ele. Um beijo ímpar para uma pessoa ímpar. Um beijo carregado de carinho, atenção, e porque não: amor.
Ele começou, então, a fazer parte da minha vida para sempre, porque o que vivemos, esse 'mundo bolha-mágico', estará sempre comigo.

E é com lágrimas nos olhos que percebo agora, o quanto eu lhe quero bem, e o quanto eu estava certa, em saber, quando decidi que rumo tomar meus relacionamentos, que você seria sempre o homem capaz de me fazer feliz, por mais que muitas vezes eu tenha imaginado que a mágica tenha se acabado, você, com um sorriso e um abraço a trouxe de volta.
Eu colocaria a minha felicidade em jogo, pela sua. Como já o fiz, e por vezes continuo a fazer.

Talvez esse retrospecto tenha virado agora uma declaração que jamais será ouvida. Pelo menos jamais será entendida na essência de que deva ser, porque é assim, meio sem nexo, e por impulsos desconexos que vou escrevendo essas linhas. Mas nada disso importa, porque essas linhas, se forem lidas, terão apenas uma leitora: eu. E se por acaso mais alguém as ler, se sinta vangloriado, porque então, guarda dentro de ti um pouco de mim, este 'mim' que lê esta carta agora."
(dezembro/2006)


E é deste texto escrito em 2006 e publicado aqui que retomo para o ponto final.
Porque mesmo depois de tudo o que vivi as minhas palavras e meus sentimentos são os mesmos que me envolviam: você continua a ser o homem que tanto quero bem, o homem que amo e sempre amerei, e que me faz feliz, mesmo não estando comigo agora. É o homem que eu sinto ciumes, raiva, amor, desespero, saudade, angústia, felicidade, solidão, tristeza, tédio, alegria.
É o homem que conseguiu despertar em mim todos os sentimentos que uma pessoa poderia sentir. É o homem que amo. E amo tanto e tão profundamente que o deixei livre, porque eu não poderia mais te acompanhar, e você já não me acompanhava mais.

Antes interromper o processo no meio e ficar com uma coisa boa do que com a certeza de algo ruim.
Esse foi o homem da minha vida. Esses foram os anos, os 27 meses e 3 dias mais importantes e intensos que tive até então. Esse foi você e eu, vivendo o que achavamos ser bom e certo.
O amor não acabou e continuará em mim sempre. Então porque interrompi o processo?

"Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. "

E acabaria em dor, bem sei. E assim como foi mágico e perfeito o nosso início, queria que o final também fosse. Porque terminar em meio a mágoas e brigas quando poderíamos fazer com que o fim também fosse belo?
Eu o amarei para sempre. Embora saiba que o amor não acabou, as outras coisas essênciais foram morrendo aos poucos. Eu morri aos poucos, esqueci. Ele morreu, me esqueceu.
Já não havia expectativas, sonhos, confiança, risadas, cumplicidade, nostalgia, 'frio-na-barriga'. O que restara fora o amor e a comodidade.
Antes interromper o processo no meio e ficar com uma coisa boa, a certeza de que o amarei para sempre, e de que ele será para sempre o homem da minha vida. (mas é válido lembrar que o 'para sempre' não é todo dia)

E é sem poesia nenhuma, sem palavras bonitas e sem lágrimas que coloco aqui o meu ponto final.
Com alguma dor, profunda e dilacerante, que ainda hei de sentir. Uma dor que se tranformará em arrependimento na proxima vez em que eu o verei. Uma dor que, espero, se transforme na certeza de ter feito a coisa certa.
Não podia insistir em algo que eu saberia que não acabaria bem. Eu não poderia insistir no meu próprio fim.

"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."

E na novíssima leveza do ser, te amar eternamente. Como uma coisa boa.

Lorena Borges