assustei com a campainha. como sempre. e logo escutei o barulho da chave girando na fechadura. a minha espera já tinha começado há mais tempo. logo quando nos encontramos pela primeira vez. a minha espera começou logo naquele dia. e logo naquele dia, silenciosamente, lhe dei a chave. mas antes era uma chave fictícia e simbólica. nem eu sabia que tinha dado. nem ele sabia que tinha recebido. a campainha tocada como num susto, sempre antes de abrir a fechadura. era um modo gracioso de pedir licença. embora não tenha pedido licença para entrar em minha vida. nem permissão. ou qualquer outra coisa. na vida, ao contrário da casa, já foi entrado, servindo café, ligando o som. na vida foi assim. entrando completo, sem pedir licença ou esperar uma recusa, veio fininho, mansinho e espaçoso. e ligou o som. embalando o que éramos em canções. entrou na casa e no coração feito sol da manhã, beijando docemente quem eu ainda me construía. depois parou de abrir a fechadura e também parou de tocar a campainha. deu adeus à casa e ao coração. devolveu a chave e nunca mais trancou ou abriu a porta.