tinha as perninhas tortas. e os ossos bem aparentes. um sorriso tímido qualquer. e pensava, que por suas perninhas tortas e seus ossinhos aparentes ninguém nunca a notaria. ou notaria, mas para caçoar dela. como os meninos poderiam ter olhos para tantos ossos pregados à pele? usava do seu sorriso, o seu tagarelar constante, como que para esconder a falta de carne a preencher. teve um primeiro amor, que na amizade se esquivou. teve um segundo amor. e que surpresa ao perceber que era correspondida. era correspondida? certo que não. era o menino mais bonito da sala. certo que correspondia como uma maneira de brincar com ela. que caçoar daquelas pernas tornas. das duas calças que usava na escola para dar um preenchimento que a carne não lhe dava. teve outros amores. e correspondiam todos. e ela sempre a imaginar que era uma forma de fazer piada com os ossos delas. a sorridente menina, amiga dos meninos. que teria de interessante nela? a menina cheia de ossos foi crescendo, e pelos seus olhos de gaivota foi vendo o fascínio dos meninos pelos seus ossos. pelos olhinhos miúdos que se escondiam na cara cheia de sardinhas. e inocentemente a menina das perninhas tortas foi conquistando corações. os mais impossíveis e difíceis ela colecionava. até que um dia, por escolha, decidiu entregar seu sentimento mais bonito, entregar todo o seu coração,s eu destino, seu futuro, seu cheiro a um menino, também menino, também de pernas tortas, também de ossos aparentes e cheiro escondido.

e este foi o primeiro menino que a menina não conquistou.