Dois dedos de vodka

Não, eu não fiquei a minha vida toda esperando um sentido para qualquer coisa. (Fecha a porta que agora é entre nós e só.) Tenho me sentido um pouco só, como se eu não soubessse a direção que deveria tomar. Então tomo vodka. É a única coisa que tem matado essa minha sede sei lá de que. Mas sem gelo, suco ou açucar, assim mesmo, vodka e só ela, transparente. Outro dia, num desses dias que a gente só quer morrer um pouco, coloquei um vinil antigo no som, sentei no sofá com uma garrafa ao lado e fiquei horas olhando o meu copo cheio daquele líquido transparente, tentando achar algum sentido qualquer em qualquer coisa. Percebi que em toda a minha vida eu havia sentido uma coisa: uma ingratidão profunda e uma solidão confortadora.

Lorena Borges