Disfarço mágoa com carinho.

"Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza."

Caio Fernando Abreu
Comprei sapatos verde-limão!
É, que ousadia, não? Para quem tem um guarda-roupa tão degradê até que estou bem coloridinha, né? Mas este é meu troféu. Entre as blusas pretas, as calças básicas, os sapátos sóbrios eis que agora surge um verde-limão. E mal chegou já virou xodó. Nem ousei colocar junto com os outros. Não! Seria uma ofensa ao recém-chegado! Coloca-lo junto ao chatos, pretos, sujos, fétidos, cinzas, sóbrios, embromáticos. Não!
Fiz do sapato parte do quarto. Coloquei estrategicamente do lado da cama. Assim juntinhos, meio na diagonal, como se estivessem ali por acaso.
E no quarto, entre os móveis monocromáticos, eis que surde agora meu sapato verde-limão!
Que ousadia! Que ousadia!
Um verde. Um limão. Um verde limão. Um limão verde. Mas sem amargura, enchendo meu quarto de douçura. Invadindo assim... e assim invadindo... Invadiu!

Já é tarde, agora é o sapato verde-limão, o quarto, e eu.

Coloco meu novo sapato verde-limão, e vou passear, sozinha, levando a saudade, com gosto de limão, e a esperança a pintar de verde essa minha solidão.

Lorena Borges

Alice(ando)

Se Alice se visse
Se Alice se tocasse

Se ali Alice se sentisse

Talvez ali Alice se gostasse


Lorena Borges