das verdades do agora

"Parece-me que todas as nossas tristezas são momentos de tensão que consideramos paralisias, porque já não ouvimos viver nossos sentimentos que se nos tornaram estranhos; porque estamos a sós com o estrangeiro que nos veio visitar; porque, num relance, todo o sentimento familiar e habitual nos abandonou; porque nos encontramos no meio de uma transição onde não podemos permanecer. Eis por que a tristeza também passa: a novidade em nós, o acréscimo, entrou em nosso coração, penetrou no seu mais íntimo recanto. Nem está mais lá - já passou para o sangue. Não sabemos o que houve. Facilmente nos poderiam fazer crer que nada aconteceu; no entanto, ficamos transformados, como se transforma uma casa em que entra um hóspede. Não podemos dizer quem veio, talvez nunca o venhamos a saber, mas muitos sinais fazem crer que pe o futuro que entra em nós dessa maneira para se transformar em nós mesmos, muito antes de vir a acontecer. Por isso é tão importante estar só e atento quando se está triste. O momento, aparentemente anódino e imóvel, em que o nosso futuro entra em nós, está muito mais próximo da vida do que aquele outro, sonoro e acidenta, em que ele nos sobrevém como se chegasse de fora. Quanto mais estivermos silenciosos, pacientes e entregues à nossa mágoa, tanto mais profunda e impertubável entra a novidade em nós, tanto melhor a conquistamos, tanto mais ela se tornará nosso destino e quanto, num dia ulterior, vier a "acontecer" - isto é, quando sair de nós para se chegar a outros - . sentir-la-emos familiar e próxima. Deve ser assim. É preciso - e a nossa evikução, aos poucos, há de processar-se nesse sentido 0 que nada de estranho nos possa advir, senão o que nos pertence desde há muito. Já se modificaram muitas noções relativas ao movimento; há de se reconhecer, aos poucos, que aquilo a que chamamos destino sai de dentro dos homens em vez de entrar neles. Muitas pessoas não percebem o que delas saiu, porque não absorveram o seu destino enquanto o viviam, nem o transformaram em si mesmas. Afigurou-se-lhes tão estanho que, em seu confuso espanto, julgavam-no saído delas justamente naquele momento, e juravam nunca antes ter encontrado em si algo parecido. Como os homens durante muito tempo de iludiram acerca do movimento do sol, assim se anganam ainda em relação ao movimento do que está para vir. O futuro está firme, cara sr. Kappus, nós é que nos movimentamos no espaço infinito.
Como, pois, não seria difícil a nossa sorte?"

Rainer Maria Rilke
em Cartas a um jovem Poeta
quero o sangue do filho que não veio.
o esmiuçar do ventre que não produz.
quero a dor do que não é
do que não muda
do que não transforma
quero a exatidão do meu corpo em todos os meses
quero o vazio do meu ventre
preenchido pela dor aguda do meu peito
quero a infância tardia que não virá nunca
quero a imaturidade dos meus gestos
e a responsabilidade em aceita-los
quero a idade não avançada
o cabelo branco que não virá
a dor que vem
com o filho que não vem
quero o vazio

já estou cheia de tudo.

e juntos,
acreditar outra vez.
então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
(maiakovski)

universo infinito

"E percebo que não importa onde eu esteja, seja em um quartinho repleto de idéias ou nesse universo infinito de estrelas e montanhas, tudo está na minha mente. Não há necessidade de solidão. Por isso, ame a vida como ela é e não forme idéias preconcebidas de espécie alguma em sua mente".

Jean-Louis Lebris de Kerouac