serendiptidade.

é confuso. estou perdendo a razão. é difícil distinguir o que é real do que não é. a realidade tem se apresentado cada vez mais ilusória e as dúvidas me consomem. não me preocupa a morte. partir parece cada vez mais fácil. não há barreiras entre o real e as outras esferas. me sinto flutuando em um lugar sem tempo nem espaço. o tempo também não parece real. me confunde. olhar de inseto a ver o mundo correr devagar, olhar de tartaruga a ver o mundo correr depressa. conheci pessoas a frente de seu tempo e me sinto cada vez mais atrasada. cada vez mais estou flutuando mais e mais pesadamente nesse vácuo de tempo, lugar e realidade. meus sonhos tem sido cada vez mais lúcidos, e minhas realidades cada vez mais ilusórias. já não sei distinguir vontades próprias dessa vontade de que tudo move. temos realmente que respeitar o fluxo? mas não tem sido fácil entendê-lo. não sei se fico ou se vou. não consigo mais ver os sinais, me perdi dentro da minha realidade. é confuso. tenho desenhado. nunca o fiz antes na vida. mas agora há a vontade e uma certa habilidade débil. há algo acontecendo e eu não posso supor o que é. algo grande e estou participando. sinto que é preciso correr atrás do tempo perdido e me preparar para o que está por vir. real ou não. experimentar. viver. acumular experiências. arriscar. a vontade de começar novos caminhos é cada vez mais forte. é confuso. tenho sido eu ou tenho sido o molde do que me fizeram? conheci pessoas a frente do seu tempo. parece não haver necessidade de não se preocupar com a realidade, por mais que doa. nada parece real. acho que não é. debilidade inútil de meus escritos. relações confusas e cheias de lacunas. somos seres solitários em expansão. não há nada além das nossas próprias vontades. o universo é esse que se passa dentro de minha vida pensada. o que resta? minha vida pensada não é real. então o que resta é essa não realidade das coisas. são as coisas como vejo, como desejo. e se desejar bem forte eu consigo. toda vida é sofrimento mas é possível alcançar a supressão do sofrimento. o budismo me ajuda. e quando me falta ainda há o niilismo ou outro filosofia qualquer. não há nada além da nossa própria mente. o que sou não tem medida. pois não se posse calcular o seu tamanho. fujo de mim mesma como quem foje da própria realidade. um dia eu me encontro.

is this real life?

dor de parto
do que ainda não sou
confusão linear do que
ainda não é
as janelas fechadas para a rua da minha infância
já não sei se lembro ou se invento
já não sei se sou ou imagino
ofusca-me a realidade dessa vida não vivida

vomito de mim

ela tem olhar de binóculo, eu tenho o olhar perdido.
envelheci 7 anos nas últimas 6 semanas.
um peso comprime no peito,
um nó se forma na garganta.
o peito,
lugar onde o coração está é onde parece mais doer.
o peso do fruto que não carrego no ventre comprime meu peito para que se deforme.
retire a forma de que já é.
diria que é preciso aprender tudo de novo.
aprender a amar, re-amar.
remar.
afogo-me nas lágrimas que já não produzo,
embora haja vontade.
ela tem binóculos agradabiliss, eu tenho a angustia estampada na cara.
a dor do que é, do que poderia ter sido, não foi

e é tudo.

Il ya toujours quelque chose d'absent qui me tourmente

Há algo que ainda machuca, que dói.
Uma ânsia de vômito qualquer.
Um embrulhar de estômago no canto do íntimo.
Dor, amargura, angustia profunda. dilacerante qualquer.
os vermes dançam no meu ventre.
ventre este que não nasce um novo coração.
há outro ventre com um coração por dentro.
quisera eu que não. quisera eu que inicio de maio não doesse.
os caminhos não trilhados (Frost sabe do que falo)
profusão confusa. angustia dolorida.
meu ventre podre, que não poderia dar fruto
pois coração não nasce aonde há vermes
há sempre alguma coisa ausente que atormenta.
namoradinha de Rodin me disse uma vez.
e quem há de entender?
nem eu mesma me entendo, e nem é para entender
há só de engulir, engulir, engulir,
na esperança de que se digira algo de bom,
a minha própria merda do que não sou
o que não fui é que me dói
os telefonemas me machucam
o apaguei da minha lista, não atendo mais certos números
há uma vontade de saber do futuro
espero que eu consiga
que consiga conviver com o fruto que não é meu
que não me doa o existir dos outros
não-poema sem poesia
não há doçura nessa amargura que sinto
o frio na barriga que me acompanha em cada pensamento
o telefone que toca, e a pessoa errada do outro lado da linha
que o início de maio não me doa.
não mais do que ainda me dói agora.

férias.

do por enquanto.

"Cantos de alívio pelo que se foi,
cantos de espera pelo o que há de vir."
"Creia no futuro"
é o que já dizia Jorge Mautner.
estou crendo, estou sendo.