Não há ciúme pois não há possessão.

Me calo.

E o que diria agora? O silêncio parece às vezes bem mais sabio. Guardo agora o momento em que as coisas são me ditas, a sabedoria de cada um que me completa. Sou um ser atônito em construção, e quando confusa saio para dançar valsa com meu eu.
Me construo e me limito em cada conversa - por mais que a liberdade não tenha limites - estou em construção do meu eu. Não sei o que serei, nem me serás, mas o caminho parece certo e azul. Sinto o cheiro do azul e tenho sido eu mais do que nunca, tenho me construído completa, fazendo eu mesma parte do que serei.

o que sou não tem medida.
sou um sujeito desacontecido.
Por puro pudor sou impuro.

pequenas verdades

Como sei pouco e sou pouco
faço o pouco que me cabe
me dando 'inteira'

(Thiago de Mello)
a objetividade da fotografia é uma falácia.
erram os que acham que ela retrata o real.
o que há é que quando o fotógrafo diz:
- olha o passarinho!
uma ave de asas oblongas sai de dentro da câmera
com um embornal de pinceizinhos e uma paleta de cores
sobrevoa a cabeça do fotógrafo
sobrevoa a cabeça do fotógrafo
e pousa sobre seu ombro esquerdo.
de lá, pinta a cena.
em suma, a fotografia é uma ópera de pássaros.

Chacal

Easy Rider

about me:

- Ela é tão livre que um dia será presa.
- Presa por quê?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente?
- É. Até mesmo ingênua.
- Então por que a prisão?
- Porque a liberdade ofende.

(Clarice Lispector)
"Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,(...)"
pirninhas tortas e olho em forma de gaivota.

Ressureições

"Você foi pela estrada assim
Como quem não vai voltar
Quem fica é quem chora
Até se acabar
Minhas lágrimas se acabaram
Mas não a vontade de chorar
Te amei no dia em que te vi
Domando um bando de leões
Domando aquelas feras, conquistando os corações
Dizendo que o amor nunca morre porque tem ressurreições
Sete mil quartos secretos guardam um segredo
Só o amor, só o amor pode matar o medo"

(Jorge Mautner)
nada nada nada é por acaso


"Eu não tenho nada para oferecer a ninguém, exceto minha própria confusão"

pequenas mentiras

as vezes eu tenho uma vontadezinha de morrer.
a gente é melhor quando está morto.
"Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz."

Estou cansado

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
Venho dos lados de Beja.
Vou para o meio de Lisboa.
Não trago nada e não acharei nada.
Tenho o cansaço antecipado do que não acharei,
E a saudade que sinto não é nem no passado nem no futuro.
Deixo escrita neste livro a imagem do meu desígnio morto:
Fui, como ervas, e não me arrancaram.
Eu sou um mosntro ou isso é ser uma pessoa?
Sou uma destruidora de corações.