"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!”

Clarice Lispector

como se eu mesma tivesse escrito

Até os meu escritos, sobre os quais tanto se argumentou e discutiu antes estão aposentados, eu simlesmente não tenho tempo de me ocupar deles e aos poucos o desejo de escrever vem desaparecendo. Mas será que realmente eu tive esse desejo? Não seria apenas uma iusão, uma inútil busca da perfeição? Eu gostava de compor só na minha cabeça, ao passo que, no papel, as coisas eram totalmente diferentes, o ardor passava e não saia nada de bom. Agora já nem sonho me tornar um gênio, já não tenho aspirações, até o meu costumeiro jogo não funciona mais.

As vezes me interessa analizar meu passado, examinado-o de ponta a ponta. Desde que eu era pequena, meu carácter revelava algumas fraquezas: uma disconfiança que as vezes chegava ao absurdo, uma índole de sonhadora. Quais eram os meus pensamentos, as minhas expectativas, ou, ainda, qual era e como se chamava o meu jogo, isso jamais contarei a ninguém.
Nos últimos anos, eu gostava de ficar sentada durante horas inteiras no meu quarto, a excogitar coisas diversas, falar em voz alta, sonhar, viver, refazendo a mesma coisa de mil maneiras diferentes.

Quando eu tinha 7 ou 8 anos, minha circunspecção se tornara doentia, em cada palavra eu vislumbrava um significado oculto, uma conspiração contra mim, tinha medo de tudo e, quando ficava sozinha, controlava todos os cantos e recantos para verificar se não havia ninguém ali. Naqueles anos, frequentemente me acontecia ter sonhos incríveis, verdadeiros e pavorosos, que eu esperava com horror e dos quais dispertava suando frio e com o coração batendo forte.

Um sonho, sobretudo, era recorrente. Por si só, não significava nada de especial, mas me provocava uma náusea, uma vontade de vomitar a nivel puramente físico, e durante anos continuei a ter aquela sensação, mesmo acordada. Eu tentava entender, analisá-lo atentamente para compreender as razões dele, mas nunca consegui. Depois, essas estranhezas me induziram a um pensamento curioso: Será que eu não estou psiquicamente doente, será que estes não são ataques de uma loucura sui generis? As vezes há momentos nos quais você acha que está enlouquecendo, que alguma coisa se dispedaçará... uma sensação louca, selvagem e insensata.
Eu berro como um animal, pavarosamente, com todas as forças, a tal ponto que meus cabelos se eriçam na cabeça...

Nina Lugovskaia

"Te entrego os meus medos, meu erros, meus segredos"

póstumo

E depois de longos abraços, de beijos calorosos, de sorrisos esparsos chegará o dia em que as bocas não se encontrarão, que os abraços serão frouxos e os sorrisos escasso.
Depois de longas declarações, promessas de amor, palavras doces chegará o dia que as frases não farão mais sentido, que as trocas serão amargas, e que as declarações serão apenas rotina.
Depois das cumplicidades chegará o dia em que nem conversarão.
Depois das cenas de carinho virão os dias em que tudo cansará, até mesmo poderão o interesse pelos desentendimentos.
Depois chegará o dia em que não haverá sequer uma palavra a ser dita.
Depois chegará o dia que, de tão cansados e distantes, não haverá nem mais forças para terminarem aquilo que não existe mais.

Não mais juntos, porém no mesmo caminho, unidos pela comodidade.

Lorena Borges
"Não esquecer que, por enquanto, é tempo de morangos"


Cansei de tanto procurar
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder

Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer
Tenhos os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão

Não sei pra onde vou
Não sei
Se vou ou vou ficar
Pensei, não quero mais pensar
Cansei de esperar
Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa coração e bate em paz