When I think of all the things I've done
And I know that it's only just begun
Those smiling faces

When I think of all the things I've seen
And I know that it's only the beginning
Qual flor de uma estação
Botão fechado eu sou
Se amadurecendo
Pra se abrir pro meu amor

sobre o amor

"eu era jovem demais para entender o que havia se passado" (Jack Kerouac)

ha um ano fizemos as pazes

"mas para que se pensar nisto quando se tem pela frente toda a vastidao dourada da Terra e acontecimentos imprevisíveis de todos os tipos estão à espera, de tocaia, para te surpreender e te fazer ficar satisfeito simplesmente por estar vivo para presenciá-los?"

laryssa me disse

"Essa semana tenho sonhado muito com você. Sempre num pantone amarelado, com a luz sempre ofuscando de leve a vista, mas que eu vejo seus cabelos ao vento, vc sorrindo fasseira, rindo solta, e quando fica séria, é pra sentir o vento. Não diz nada, só olha pra mim e ao redor. E sorri descabelada de braços abertos pra vida."
"La vida nos es la que uno vivió, sino la que uno recuerda y cómo la recuerda para contarla."
"Eu estava curtindo uma temporada fantastica e o mundo inteiro abria-se à minha frente porque eu não tinha sonhos"
“Que sensação é essa, quando voce esta se afastando das pessoas e elas retrocedem na planície até você ver o espectro delas se dissolvendo? – é o vasto mundo nos esperando, e é o adeus. Mas nos jogamos em frente, rumo à próxima aventura louca sob o céu.” (Jack Kerouac – On the Road)
Que bons ventos me levem, bem leve, por ai...

Trem da morte.

"Acordei com o sol rubro do fim da tarde; e aquele foi um momento marcante em minha vida, o mais bizarro de todos , quando não soube quem eu era - estava longe de casa, assombrado e fatigado pela viagem, num quarto de hotel barato que nunca vira antes, ouvindi o silvo das locomotivas, e o ranger das velhas madeiras do hotel, e passos ressoando no andar de cima, e todos aqueles sons melancolicos, e olhei para o teto rachado e por quinze estranhos segundos realmemte não soube quem eu era. Não fiquei apavorado; eu simplesmente era uma outra pessoa, um estranho, e toda a minha existencia era uma vida mal-assombrada, a vida de um fantasma. Eu estava na metade da America, meio caminho andado entre o leste da minha juventude e o oeste dos meus futuro, e é provavel que tenha sido exatamente por isso que tudo se passou bem ali, naquele entardecer dourado e insólito." (Jean Lebris du Kerouac)

Enviado de meu telefone Nokia

Panamá que me espere! Colômbia que me aguarde! Equador aí vou eu! Peru uma beijoca! Chile um abraço! E Bolívia que me receba!

Parto para o desconhecido.
"De nuestros miedos
nacen nuestros corajes
y en nuestras dudas
viven nuestras certezas.
Los sueños anuncian
otra realidad posible
y los delirios otra razón.
En los extravios
nos esperan hallazgos,
porque es preciso perderse
para volver a encontrarse."



(Eduardo Galeano)
o peixe morre é pela boca.

neoqav

eu me esqueci.
esse blog deveria se chamar era 'valvula de escape'
um amigo uma vez me disse que a hora de tudo é a hora em que acontece.
não ouso discordar.






não fiz a conta dos dias. do tempo. e me assusto ao olhar o calendário para medir o tempo. uma semana e já não terei rotina. duas semanas e já não terei porto seguro. o tempo que antes corria devagar agora corre rápido. o medo é de que não dê tempo do nosso caso começar antes desse tempo. será que se eu te chamar para um cinema você vai aceitar? o tempo ta sendo gentil. mas a gente também tem que ser gentil com o senhor tempo. um beijo. um abraço. um amor. tanto espaço e não me caibo. sufoco oco. e pergunto ao tempo quanto tempo tenho para dar o tempo do nosso tempo no tempo certo do tempo. 

meu tempo corre desmedido. pois meu amor não tem tempo. tem objeto direto e sujeito. meu amor não tem tempo, nem espaço, nem lugar. meu amor tem destinatário. meu amor, o tempo começa já.
e pode até levar um tempo
até que eu me sinta melhor
mudar a direção do vento
sentar e esperar é pior

"não é tão simples assim", alertou Dean. "a paz virá de repente, a gente não vai nem compreender quando acontecer - percebe, cara?" (on the road - jack kearouc)

verdade sentida

"I always felt that, in his own way, flawed as it might have been, Jack loved me as much as he could. And I think our relationship was one of the best relationships that he had. But he couldn't sustain a relationship, and I think I realised that even then. I had this sort of double-vision, even though I was quite young; if Jack had said, 'Let's get married!', I definitely would have done it, but I also knew, deep down, this wasn't for ever" (Joyce Johnson)
feito areia escorrendo pelos dedos.
lá se vão os sete aneis de saturno. lá se vai a sorte lançada ao vento, como a fumaça que solto de minha boca do cigarro que não fumei. lá se vai a sorte jogada ao vento, na esperaça que preencha esse vazio que sinto agora.

minor characters

não sei se eu lia o livro ou ele que me lia. joyce jonhson, vinte e dois anos, trabalhava para sustendar a vida sozinha, havia se deserdado ha uns anos, aos vinte e um conheceu kerouac, se apaixonou. lorena borges, vinte e dois anos, trabalhava para sustentar a vida sozinha, saiu de casa ha uns anos, aos vinte e um se apaixonou pelo seu kerouac, embora ele tivesse outro nome, jorge era seu equivalente em russo.  lia o livro que a lia. e bem sabia não era ficção. nos anos cinquenta um estranho romance que se repetiu cinquenta nos depois. e nos próximos cinquenta. o que nos espera? kerouac fez coisas acontecerem, encantou pessoas. jorge também. joyce nunca mais foi a mesma. lorena também não. algumas pessoas transformam quem fomos e somos. kerouac e jorge pegaram a estrada. a estrada de joyce foi a estranha vida que levava. vida esta que ela própria escolheu. lorena, ainda não se sabe, talvez vá embora, mas volta. kerouac viveu algo grande, assim como jorge. amou muitos e muitas, assim como jorge. joyce e kerouac tiveram muitas indas e vindas. lorena quer apenas as vindas. acredita-se que jorge também. kerouac, anjo desolado escreveu: 'joycey, the best love affair i ever had'. lorena prefere escrever a mesma frase no presente futuro próximo e deseja que jorge também. cinquenta anos para cá, cinquenta anos para lá. cinquenta oportunidades de fazer a mesma história com final diferente. seja como for, marcado na vida de joyce e de lorena há em cada uma o seu kerouac.
"I wonder how I'll wear my hair when I'm thirty"
(Elise Cohen)
Não me importa quantas tenha adentrado. Não me importa quantas sentiram o seu hálito. Não me importa com quem dividiu seu riso. Não me importa. Apenas repito a mim como em um mantra: confia. Seu cheiro sem cheiro que é um cheiro só meu. Suas pintas nas costas, fazendo constelações. Sua pele fresca. Seu olhos, que para mim olham cheio de segredos compartilhados. O calo do pé, feito um parque de diversões. As mãos que pintam, que gravam, que manipulam e que também me amam. Amaram. E confio, amarão. Seu cheiro sem cheiro que era um cheiro só meu que sinto falta todas as manhãs. Falta de acordar no olho do outro. A lacuna do seu membro no meu ventre. O salivar de palavras doces. Meu dedo que era seu. Assim como meu corpo, meus cabelos, meu intimo, meu amor que ainda o é. Mordiscar de brincadeiras. Não me importa com quem saia, o que faça, como se divirtas. Se for a minha pele adormecida que quer tocar quando acorda, se for a minha meninice que deseja quando está com tédio, eu confio. Feito mantra eu repito: confia. E mais que confiar eu acredito. Pois duas pessoas quando se desejam sempre acham o caminho de volta.   
é tanto amor, sincero, profundo e forte que não cabe espaço para mais nada. talvez apenas para a saudade.
e procuro você debilmente na minha cama todas as manhãs.

"Este é o trigésimo dia. O ciclo está completo e não encontrei o Leopardo dos Mares. Já não sei ao certo se alguém me contou, se leram nas cartas, nas runas, mas estava certo de que ele estaria aqui e só por isso vim. Procurei-o no porto, nos cafés, na praia, pelas esquinas e barcos. Olhei tudo e todos muito atentamente. Sei que o identificaria por aquela tatuagem no braço esquerdo - um leopardo dourado saltando sobre sete ondas verdes espumantes. E mesmo que fizesse frio e eu não pudesse ver seus braços, reconheceria de longe seus olhos de jade. E, se usasse óculos escuros, eu assobiaria aquela canção até que me escutasse. Sem ele, não vejo sentido em continuar nesta cidade. Que todos me perdoem, mas escrever agora é recolher vestígios do impossível. Para encontrá-lo, e isso é tudo o que me importa, eu parto."

veio caio fernando vomitar em mim a verdade sentida.
ando sentindo mesmo
é uma puta duma saudade

acordei de sonhos intranquilos.

sonhei sonhos intranquilos. um novo motivo, um nome, uma desconectar de almas, uma pontada no peito. acordei. e assim que acordei o telefone tocou, eu acabara de ter um sonho premonitorio e já sabia. encontramos. e tudo o que eu havia sonhado era de fato real. um motivo, juliana da joalheria, moça bonita de cabelos curtos, beijava bem. então um pedido de apagarmos os planos que fizéramos de um dia dois virar um e virar três. o detalhe de ja ter sonhado e já saber o que me esperava não fez soar menos estranho, mas sabia debilmente como agir. o fato é que acordei de novo. um sonho dentro de outro. e agora não tive telefonena, nem mensagem, nem sinal de fumaça para me mostrar essa tal juliana da joalheria, roubando meu conto de fadas. talvez o motivo seja outro. talvez seja só sonho.

acordei de sonhos intranquilos.
intranquila.






como diria Ginsberg: me apaixonei por Kerouac.

Pé na estrada

"Quando a gente passa as férias viajando de moto, vê as coisas de um jeito completamente diferente. De carro a gente está sempre confinada, e como já estamos acostumados, nem notamos que tudo que vemos pela janela não passa de mais um programa de televisão. Sentimo-nos como um espectador, a paisagem fica passando monotonamente na tela, fora do nosso alcance. Já na motocicleta, não há limites. Fica-se inteiramente em contato com a paisagem. A gente faz parte da cena, não fica mais só assistindo, e a sensação de estar presente é esmagadora. Aquele concreto zunindo a uns quinze centímetros da sola dos pés é real, é o chão onde se pisa, está bem ali, tão indistinto devido à velocidade que nem se pode fixar a vista nele; e, no entanto, para tocá-lo basta esticar o pé. A gente nunca se desliga daquilo que está acontecendo"

(Robert Pirsig - Zen e a arte da manutenção de motocicletas)
meu próprio pai era um beatnik!
e ser apenas um borrão
liberdade e solidão andam de mãos dadas.














não ha porto seguro

a vontade era de afogar em minhas cobertas, permanecer no meu casulo até que a transformação se complete. hibernar até que o tempo ruim passe. mas humana que sou essas alternativas não se encaixam. resta levantar com os olhos apertados. e encarar, mesmo que sem vontade os dias que gritam sua loucura. o nó, a angustia e a amargura que sinto no peito me livrar num vomito. algo incomoda mais do que ontem, menos do que amanhã. me afoguei em mar aberto.


i love you badly
so much has gone and little is new
we planted seeds of rebirth

and i want to believe
and you want to believe
and we want to believe
a falta se fazendo mais presente
suas putas, suas raparigas, suas vadias
seu amor sem dono, sem destino.
suas transas, suas punhetas, o sexo
seu amor a todas, sem dono.

bichinho

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

(maiakoviski)
a vontade de gritar persiste
gritar, gritar, gritar

o amor e a falta que sinto.
um vazio inteiro dentro
falta de amanhecer no olho do outro

(dentre outras tantas faltas)
"Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
E desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero..."

Fernando Pessoa para falar agora

26. "dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma"
233. "... a tristeza solene que habita em todas as coisas grandes -"
126. "conforme a sorte manda e o acaso faz"
46. "no desalinho triste das minhas emoções confusas"
372. "absurdemos a vida, de leste a oeste"
28. "um halito de música ou de sonho, qualquer coisa que faça quase sentir, qualquer coisa que faça não pensar"

farois altos e baixam
que me fotografam
a me procurar

em todos os peugeots
uma placa que não encontro

angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia angustia








lá vai o cão arrependido
com suas orelhas baixas
o osso roído
e o rabo entre as patas

e o verso é repetido 42 vezes
nada do que disse vai ser o certo.
pois sou uma pessoa errada.
um tango argentino.
não sou mais o seu bichinho
não é mais o meu amor


"meu pássaro se enjaulado
morreria indomável
pois nasceu assim, meu pássaro amado,
sabendo que voam todos os pássaros"

(Jéssica Vieira)

le temps destruit tout

tem o tempo que cura
e o tempo que destrói.
um diário adolescente. talvez porque não passe mais do isso. na efervescência da minha imaturidade. mas nada pode ser exigido. cada coisa a seu tempo e eu respeito o meu. por mais que aflija, por mais que doa, por mais que me angustie não ser a mulher que esperam que eu seja. sou menina. tentando viver uma vida de mulher que não se encaixa. feito banana no saco, obrigada a amadurecer antes do tempo. e de tempos em tempos minha imaturidade vem a prova, e a dor do parto de partir raízes. não passo de uma adolescente. tentando viver uma vida de mulher. uma maturidade que ainda não tenho para dar leveza às dores. vomito minhas estrofes de mil versos. vômito. de dentro, de coisa pobre, do que não faz bem, de coisa errada. aqui assumo a meu medo, o meu fraquejo. o olhar assustando de quem vive uma vida que não é sua. de quem vive um tempo que não é seu. enquanto tento ser a mulher que quero ter orgulho vomito as crises adolescentes que ainda me ferem. tudo para manter o equilíbrio. vomito aqui sozinha. e nesses momentos é o que mais espero, ser sozinha. para que não vejam, não notem, não enojem, a criança assustada no escuro que sou.

preciso parir minhas dores.

noto: lido mais do que gostaria com partos.

às vezes

tenho vergonha
da pessoa que sou.

bella

três dias seguidos sonhando algo relacionado/com você
e estupidamente ainda não entendi.

sei que ontem tinha você ali.

tira-se búzios e tarô

vou engolir esse mapa astral
e fazer meu próprio caminho

03/10 - 19/10

vou fazer amaração para o amor

meus dias são feitos
de inumeros
dias d
tudo que faz chorar
d e a l g u m a m a n e i r a
dói
(ainda estou em trabalho de parto de minhas dores.
a procura da cesária emergencial)
com lentes
binóculos
óculos
procuro ver
o que com dificuldade
quero enchergar

com a ponta dos dedos
apalpar a dúvida que surge

azul de calmaria
de límpido
de dúvida

reacender a dor
que agora pode ser alívio

na ponta dos dedos
fazer a conta dos dias

que não foi
que me alivia
que mata em um só golpe
o fantasma do monstro
que me assombrou

agora assombra apenas a dúvida

da conta dos dias que não sei ao certo
se foram ou não foram ou serão

para a paternidade de um outro alguém

(palavras que só eu entendo, porque são de dentro de mim, como vômito.)
não está certo. nunca estaria. o que antes por mais absurdo que fosse fazia sentido. agora a dúvida regurgita e não há mais ordem nenhuma. (se ha um deus que rege por nós ele curte uma pegadinha). mortes, nascimento, dores. cada um na sua medida - desmedida. o que no depois de amanhã será dessa situação toda. as frequencias estão se movendo cada hora em um ritmo. louco. sério. caótico. organizado. deve haver a chave certa. em tempos como esse se acredita em tudo e se vira niilista. no mesmo espaço in loco do peito. de cristão à ateu, tudo faz sentido. lagos de nós mesmos. cabe espaço até para misticismo. o tarot também tem a sua verdade. e eu a minha mentira. realidade que não cabe em mim. então explodo explodo explodo em mil partículas de pó.

feito reveillon.
não poderia dizer que sou eu. não cabo no meu ventre embora queira. refúgio do que penso que sou. olho no espelho e essa não sou eu, é a imagem do que me fizeram, é o que imagino que sou. e sou uma para cada um que me conhece - palavras repetidas. nada é mais que repetição. leio caio, kerouac, bukowisky, milton, blake, clarice, fernando. tudo já foi dito antes, em maior maestria por eles. estou entre aquilo que me fizeram e o que eu supostamente queria ser. não sou eu quem me fito no espelho, é alguma outra parte de mim que desconheço. não sei dos meus gestos, nem mesmo da minha voz. não sei de mim. sou tantas para cada sentimento que me cabe. parir o ventre vazio do que sou. sou os rabiscos que desenho sem forma, as letras que escrevo sem pudor, a roupa jogada no quarto, a poeira escondida no canto que não varro, a lista de coisas que deixei por vazer e várias outras que fiz de última hora sem o devido capricho. um dia, quem sabe, dou de cara comigo e me reconheço. esquina por esquina, passo por passo, palavra por palavra, silêncio por silêncio. movida pela música que insistentemente toca em minha cabeça. salvem bowie. 'just rebember, lovers never lose'. o tempo corre, e não pude ainda tomar nota de mim. corro também, movida por uma pressa que vem de não sei onde. uma confusão. não tive tempo para mim. não pus minhas idéias em ordem - se é que ha alguma ordem. "o que quero dizer, mas o senhor não comprendem, é que não tenho culpa nenhuma".

vomito palavras de terceira.

Pós-operatório

Agulha no peito. Feito um tipo de cirurgia que me submeteram sem minha permissão. Um transplante de alma, de coração, um retirar de glândula pineal. Facada no peito. Bisturi a cortar fundo quem um dia eu fui - ou tentei ser. Quando aplicarão a anestesia? Quando em fim ficarei de repouso absoluto? Dizem que o pior é o pós-operatório, é quando realmente se sente as dores. Esse pós-operatório ta demorado pra cacete. Talvez seja um câncer, uma leucemia, sem cura definida. Talvez seja necessário a fé da melhora para que se melhore. Agulha e linha para costurar o estrago. Arrancaram de mim a minha inocência, e doeu fundo. Sem inocência a gente envelhece rápido demais. Sem inocência a infância perde seu brilho, vira infantilidade. Arracaram-me talvez o útero. A possibilidade de coração bater no ventre. Não teria mais motivo. Solidão a parte de quem sou. Fizeram cesárea, e em vez de um novo fruto, pariram-me a paz, quietação. Ai ficou esse nó na garganta, esse aperto no peito, esse ciclo menstrual de quem não tem gestação, tem apenas a tpm da dor de si mesma. A tpm da dor do parto realizado. Insconstância. Talvez esse deveria ser meu nome. Sinto as contrações, mas essas não são intra-uterinas. Contrai-se algo forte no peito. Me pergunto como não faleci na mesa de cirurgia. A tendência do pós-operatório é a melhora, mas tenho medo da infecção hospitalar, causada pela cicatrização mal feita. Qual o melhor remédio para acelerar cicatrização? Vão para a puta que pariu com o tempo. A resposta das coisas não é o tempo, é o amor. Não é o tempo que cura. O tempo também envelhece e mata. Corrói devagar e profundamente cada veia de angustia. Grito silenciosamente as minhas dores do parto mal feito, não há ninguém na sala de cirurgia para me dar a mão. Nunca houve, nunca haverá. Nascemos sozinhos, morreremos sozinhos. E de nossas dores, alegrias e experiência, do nosso pós operatório só nós sabemos. Quais são as delícias da cirurgia? A espera que depois, depois de tudo seja bem melhor. Ou a espera de que continuemos, mesmo que debilmente. Quando saber se é melhor a cirurgia ou o cessar rápido do sofrimento definitivo? E se ao invés de arrancarem na cesárea o fruto que não tenho amputaram-me a perna? Erros médicos acontecem. Permaneceria assim com o tumor que carrego e ainda a falta do membro que me era necessário. Que se foda, não tenho vocação para Polianna. To mais para Byron, ou um Baudelaire qualquer. Clarice me entenderia, Caio me abraçaria. Será que Xavier me curaria? Ou João Paulo, agora que é santo e realiza milagres? Talvez erraram o tipo de cirurgia, o parto poderia ser normal, com pós-operatório bem mais rápido e tranquilo, e a felicidade da nova vida. Mas roubaram-me o fruto advindo. Não me apresentaram a nova vida. Ou perdi a visão na hora do parto, o tato, a audição, e ainda não fui capaz de perceber a nova vida que veio. E nova vida é sempre sinal de bonança, alegria, paz. Certo?
"E até para morrer você tem que existir"

- você sabe viver - ela disse e sorriu.
melancolia traspassada em seu olhar, pois ela bem sabia, não sabia viver, sabia morrer e ia morrendo demoradamente nos outros, uma morte em cada esquina, um novo ser em cada encontro. morte e renascimento em cada suspiro. bella diria toda noite a gente morre, todo dia a gente renasce.
vou escrever, para provar que sou sublime.
às vezes sinto o perto
l o n g e

010111


agora percebo
nada mudou pois ainda
também sou a mesma
mas agora com alguns
lapsos de futuro.

e isso assusta
desespera:

ter futuro.