"A originalidade, é um questão de estômago" (Paul Valéry)
"tell all the truth but tell it slant" (emily dickinson)
take a walk on the wild side.
mais para comédia do que para drama.

(a propósito dos dois risos)

"Conceber o diabo como partidário do Mal e o anjo como um combatente do Bem é aceitar a demagogia dos anjos. As coisas são, evidentemente, mais complicadas.
Os anjos são partidários, não do Bem, mas da criação divina. O diabo, ao contrário, é aquele que recusa ao mundo divino um sentido racional.
O domínio do mundo, como se sabe, é dividido entre anjos e demônios. Contudo, o bem do mundo não implica que os anjos levem vantagem sobre os demônios (como eu pensava quando era criança), e sim que o poder de uns e de outros seja mais ou menos equilibrado. Se existe no mundo muito sentido indiscutível (o poder dos anjos), o homem sucumbe sob o seu peso. Se o mundo perde todo o sentido (o reino dos demônios), também não se pode viver.
As coisas, se provadas subitamente de seu suposto sentido, do lugar que lhes é destinado na ordem esperada das coisas (um marxista formado em Moscou acreditar em horóscopo), provocam em nós o riso. Em sua origem, o riso pertence portanto ao domínio do diabo. Existe alguma coisa de mau (as coisas de repente se revelam diferentes daquilo que pareciam ser), mas existe nele também uma parte de alívio salutar (as coisas são mais leves do que pareciam, elas nos deixam viver mais livremente, deixam de nos oprimir sob sua austera seriedade).
Quando ouviu pela primeira vez o riso do demônio, o anjo foi tomado de estupor. Isso se passou num festim, a sala estava cheia de gente e as pessoas foram dominadas umas após as outras pelo riso do diabo, que é horrivelmente contagiante. O anjo compreendeu claramente que esse riso era dirigido contra Deus e contra a dignidade de sua obra. Sabia que tinha de reagir rapidamente, de uma maneira ou de outra, mas sentia-se fraco e sem defesa. Não conseguindo inventar nada, imitou seu adversário. Abrindo a boca, emitiu sons entrecortados, descontínuos, em intervalos acima de seu registro vocal (era mais ou menos o mesmo som que Michèle e Gabrielle faziam numa rua de uma cidade da costa mediterrânea), mas dando-lhe um sentido oposto: Se o riso do diabo mostrava o absurdo das coisas, o do anjo, ao contrário, queria alegrar-se por tudo aqui embaixo ser bem ordenado, sabiamente concebido, bom e cheio de sentido.
Assim, o anjo e o diabo se enfrentavam e, mostrando a boca aberta, emitiam mais ou menos os mesmos sons, mas cada um expressava, com seu ruído, coisas absolutamente opostas. E o diabo olhava o anjo rir, e ria cada vez mais, cada vez melhor e cada vez mais francamente, porque o anjo rindo era infinitamente cômico.
Um riso ridículo é um desastre. No entanto, os anjos ainda assim obtiveram um resultado. Eles nos enganaram com uma impostura semântica. Para designar sua imitação do riso e o riso original (0 do diabo), existe apenas uma palavra. Hoje em dia nem nos damos conta de que a mesma manifestação exterior encobre duas atitudes interiores absolutamente opostas. Existem dois risos e não temos uma palavra para distingui-los" (O Livro do Riso e Do Esquecimento - Milan Kundera)

"because road is fast." (j.k.)
fim de um ciclo. sai em 13 de outubro. retorno agora. tudo o que vi e vivi em tantos lugares. tudo o que pensei. o que concluí. a praia de paracas. a praia de mancora. a praia de cartagena. as grandes edificações de mim mesma. para me colocar agora bem longe do mar. mas no meu porto. fim do ciclo. é hora de voltar a ter responsabilidades. é hora de escutar as palavras do taita mutumbahoy. para que nenhum homem me fira novamente com palavras.
"compreendia que o que dava a suas lembranças escritas sentido e valor era elas serem destinadas apenas a ela. no momento em que perdessem essa qualidade, o elo íntimo que a unia a elas seria rompido, e ela não poderia mais lê-las com seus próprios olhos, mas somente com os olhos do público que toma conhecimento de um documento sobre outra pessoa. então, mesmo aquela que as escrevera se tornaria outra, uma estranha. a semelhança acentuada que, apesar de tudo, subsistiria entre ela e a autora dos diários lhe daria a impressão de uma paródia, de uma zombaria. não, ela não poderia nunca mais ler seus diários se fossem lidos por olhos estranhos." (milan kundera)

Contrato nupcial

"digamos de outra maneira: toda relação amorosa repousa sobre convenções não escritas que aqueles que se amam estabelecem precipitadamente nas primeiras semanas de amor. Eles ainda estão numa espécie de sonho, mas ao mesmo tempo, sem sabe-lo, redigem como juristas rigorosos as cláusulas detalhadas de seu contrato. Oh, os amantes, sejam prudentes nesses perigosos primeiros dias! Se levarem para o outro o café-da-manhã na cama, terão de levá-lo para sempre, se não quiserem ser acusados de desamor e de traição."

(milan kundera)

7 22 30



hoje sonhei comigo mesma. eu me encontrando comigo mesma aos meus 7 anos. a menina de 22 ajudando a menininha de 7 a tirar o chiclete do cabelo. ai eu fiquei ali, me olhando correr por entre a sala, me olhando brincar. me olhando para ver e conhecer quem eu era, essa eu que não conheci porque não tinha consciência de mim. ai pensei: uma oportunidade unica para me dar um conselho. ai pensei de novo: não há nenhum conselho para dar, para essa menina de 7 ser a menina de 22 que sou agora é extremamente necessário que eu passe por tudo que eu passei, não há do que aconselhar nem prevenir. eu faria tudo da mesma maneira outra vez. ( um orgulho secreto da menina de 22 que sou agora, que irá se tornar uma mulher de 30, que veio da menininha de 7)

faltam 7.

eu admiro essas mulheres de 30.
e suas juventudes maduras.

eu admiro esses meninos de 30.
com seus filhos nos braços.