eu sujeito, objeto, modulável, topos, retórico, ficcional e real.
há 12 anos achei que esse dia nunca chegaria. chegou. normal como os outros.
me encontrar num susto.
Tive erros estratégicos na administração da vida

'do como me sinto hoje' ou 'não passei no mestrado'


Poema em linha reta

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
E assim que age o dominardor: tentando sempre definir e qualificar o dominado, sem perceber sua própria fragmentação.
perdida
em meus percursos
perversos silenciosos
só o fogo força  a pessoa a sair de seu castelo..

(...)
ando so young woman
here's the solution

itself the solution

I have always been at the same time
woman enough to be moved to tears
and man enough
to drive my car in any direction

(hettie jones)
"loneliness does not come from having no people around you, but frombeing unable to communicate the things that seem important to you."

(carl jung)




It is remarkable
worth remarking
how I am with you
how you are with me

(...)

(In-between is a place)

(shani mootoo)
Pessoas, como cidades, devem dar vontade de visitar, devem satisfazer nossa necessidade de viver momentos sublimes, devem ser calorosas, ser generosas e abrir suas portas, devem nos fazer querer voltar

(martha medeiros)

com fotografias consolo a saudade do rapaz que fui, embora saiba que há muito se apagaram os sorrisos do teu rosto. envelhecemos separados, o eu das fotografias e o eu daquele que neste momento escreve. envelhecemos irremediavelmente, tenho pena, mas é tarde e estou cansado para as alegrias dum reencontro. não acredito na reconciliação, ainda menos no regresso ao sorriso que tenho nas fotografias. não estou aqui, nunca estive nelas. quase nada sei de mim. (al berto)

não sei nada


Conheço as palavras pelo dorso. Outro, no meu lugar, diria que sou um domador de palavras. Mas só eu - eu e os meus irmãos - sei em que medida sou eu que sou domado por elas. A iniciativa pertence-lhes. São elas que conduzem o meu trenó sem chicote, nem rédeas, nem caminho determinado antes da grande aventura.
Sim. Conheço as palavras. Tenho um vocabulário próprio. O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar, rolar umas sobre as outras as palavras. As palavras são seixos que rolo na boca antes de as soltar. São pesadas e caem. São o contrário dos pássaros, embora «pássaro» seja uma das palavras. A minha vida passou para o dicionário que sou. A vida não interessa. Alguém que me procure tem de começar - e de se ficar - pelas palavras. Através das várias relações de vizinhança, entre elas estabelecidas no poema, talvez venha a saber alguma coisa. Até não saber nada, como não sei. (ruy belo)

aos amigos


Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Hélder

quando não tem quer. quando tem não quer.
"Jack took what you gave him, asked no more."
(Johnson, Minor Characters, p. 155)
não é amor.
é cilada.

amor como em casa


Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa, compro um livro, entro no
amor como em casa.
(manuel pina)

Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.

(albano martins)

Eclesiastes


Tempo de foder
tempo de não foder
saber gerir
os tempos
compor
saber estar sozinha
para saber estar contigo
e vice-versa
aqui estão as minhas contas
do que foi

(Adília Lopes)
"And Jack is lovely but quite mad which one just has to accept since there’s no hope that he’ll ever be otherwise so I really don’t know what’s going to happen, don’t even know what I’d want if I had to make my mind up. Part of me feels like running off to Europe or someplace anyway! Meanwhile I guess I’m “going steady” in a sort of nervous, unspoken arrangement that goes on and on with no particular end in sight – if you know what I mean." (Joyce Johnson - Doors Wide Open: a beat love affair in letters, 2001:131)
"Há algo de triste e desconcertante acerca da eterna estabilidade da mobília e dos objetos quando as pessoas se vão. Elise, especialmente, que provavelmente não verei novamente por anos – Eu estou me sentindo como se alguém tivesse pegado um pincel e desenhado uma linha negra através da vida. Ela estava sentada no sofá lendo suas antigas correspondências e papéis e jogando as coisas fora e colocando coisas de lado e então eu percebi que nós duas havíamos crescido, o que era lindo e terrível ao mesmo tempo. É engraçado, mas depois de tanto anos que nos conhecemos, este verão nós realmente começamos a nos conhecer de verdade – com inúmeras imagens que jogamos fora por fim. Eu jamais poderia escrever aquele poema que escrevi sobre ela agora. Estou imensamente feliz por ela – ela ama e é amada e tudo está florescendo para ela; ela colocou de lado todos os seus vestidos pretos e veste laranja agora." (Joyce Johnson - Door Wide Open: a beat love affair in letters. Tradução minha.)
vititrês onti.
leve, me leve.
"Animal é que só enxerga sexo, você vê sexo em tudo. Vejo sexo em tudo porque o sexo está em tudo. Mais ela nos chamou de monjas, nós duas. Acalme-se, quer um pouco de chá? Há vagas para moças de fino trato." vi por aí.
5./

reconheceram-se. beberam cerveja com a sede de antigos amates, fumaram ganzas para suportar o tédio da noite em Lisboa. segredaram-se tudo o que lhes acontecera desde o dia em que haviam partilhado a mesma cama.
-os olhos ainda vêem o que não morreu em nós.
-a vida deu mil voltas à nossa volta!
-não esperava encontrar-te por aqui.
-trabalho no circo,faço o número do homem-aranha.
-eras chavalito quando nos engatámos.
-e tu levaste-me contigo...fugimos, lembras-te?
separaram-se de novo ao amanhecer. um em direção da imensidade da cidade, e o outro de circo em circo, pelas datas dos santos e das promessas.

(O Medo. Al Berto, 1987:177)

ella


The swee sweet life

Se a falta dói tanto em mim
imagine nessas outras tantas pessoas
o dedo sem esmalte
a boca de peixe
a transmutação confusa dos cabelos
o sorriso escondido

quero a sabedoria dos pássaros e das árvore
lidar com minha anatomia
que é toda coração.
(em 3/5/2010)


convivi muito mais com sua ausência do que sua presença. senti mais a falta de você no quarto, na sala, no olhar das pessoas que me cercavam. às vezes a sua presença, na praça, na faculdade. aulas, corredores. a matéria que você passou sem nem mesmo ter feito prova. os risos contidos, tampados com a doçura da mão. o chinelo havaiana. a bolsa de televisão. ou forno? os dedos do pé com esmalte vermelho. o cabelo vermelho. preto. loiro. cervejas divididas. algumas tardes. alguns papos na sala da casa de um amigo. a primeira vez que ouvi falar de fisheye, foi culpa sua. e quando iniciei minha inocente paixão por fotografia, você pegou minha máquina e deu uns cliques. mas mesmo assim fui marcada pela sua ausência. convivi muito mais com ella. com o quarto o vazio. com o silêncio. com o soluço do irmão que não se continha. porque não continha você. e assim fui vivendo sua ausência, vivendo ella no olhar sentido do outro, no desabafo, no nome não dito. porque era sagrado. como o nome dos deuses que evitamos dizer com medo de incomodá-los no seu douto descanso sábio. evito o nome como algo sagrado. e assim continuo na ausência. na ausência do nome, de você. ausência que só por ser ausência me fez presente no que nunca poderia vivenciar de outra forma. e uma tristeza indômita de sentir muito mais a sua ausência do que a presença em palavras poucas. com todo o carinho, mas poucas. aqui, acolá. a ausência também modifica. e consolidou quem hoje, presente, sou. fiquei no que nunca foi mas poderia ter sido. e não é. eis tudo. mas fiquei também com o presente que só a sua ausência poderia me dar. egoísmo sim. e por egoísta, meu. a sua ausência, a sua falta pelo corredor, pelas roupas sem utilidade no armário. pelos livros sem olhos atentos a folhear, sua falta me construiu. mas eu trocava o que sou agora pela alegria que vi faltar nos olhos dos outros. na outra que para mim ficou sendo metade sua. olhos que ainda continham brilho, mas por muito tempo sem vontade de brilhar. porque você é luz. que guia, ilumina. e da qual a ausência se faz sentida. convivi muito mas com sua ausência. passei seus aniversários sem você. mas de uma forma estranha, com mais consciência de mim. vivi você nos olhos e nas paixões dos outros. vivi você nos trejeitos daqueles que amou. e amei também. e aqui, a nossa partilha secreta, amar o mesmo homem como referencial. embora de pontos diferentes. e aqui, uma partilha minha: amei você. sua presença que só senti com a sua ausência. ausência essa minha, de egoísta que sou.

Lorena Borges




"A mulher que Jan tanto amou tinha razão em dizer que o que a mantinha presa à vida era apenas um fio de teia de aranha. Basta tão pouco, uma ínfima corrente de ar para que as coisas se movam imperceptivelmente, e aquilo por que ainda teríamos dado a vida um segundo antes de repente pareça um contra-senso no qual não há nada." (O Livro do Riso e do Esquecimento - Milan Kundera)

eu entendi.

"except that forgiveness is hardly the word. Understanding, yes. But if you understand something, you don't forvige it, you are the thing itself: forgiveness is for what you don't understand" (Doris Lessing - To Room Nineteen)

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

cesariny
à distância, a beleza é absurdamente fácil.



"18 de janeiro

não escrevo a ninguém, deixei de dar notícias, ninguém precisa de saber onde me encontro, se cheguei bem, se vou partir, se mudei de rosto ou de máscara.
um pássaro, dois homens puxando redes.
até quando poderei suportar a minha própria ausência?
e a vertigem?
o mar é um jardim que me afasta, de momento, de qualquer morte. continuar ausente é com certeza a melhor maneira de estar vivo, atento aos estremecimentos do mundo.
sentado ao fundo dum espelho tomo a realidade por reflexo, escuto as estrelas, sou espectador das marés, do vento, da chuva, não tenho intenção de inventar um novo rosto para o corpo que perdi."

(O medo - Al Berto)
a casa está repleta de gemidos e anoitece. assim como tenho anoitecido a vida. sorrateira pelos cômodos me escondo. tudo cresce a seu tempo. e o tempo paira fora de seu tempo. feito fantasma. a dor de agora era a dor de outrora que insistemente volta a bater à porta para relembrar que estamos vivos. que vivemos. que pulsamos. morremos. renascemos. palpita o que quero esquecer. mas que demoradamente existe. e sou eu. a ferida em carne viva que se nega a cicatrizar. i still love him tonight.
"I still love her tonight"
(Jack Kerouac para Joyce Johnson no livro Desolation Angels)
(sentindo o gosto do mundo)
Como uma criança a colocar a realidade na boca.
"Talking to most people is like spitting into air. Days, weeks go by and nothing said."
(Joyce Johnson - Door Wide Open)

I had already that feeling too...

" I remember the first party we went to last Fall. You said, “Protect me”, and I wanted to with all my heart, but didn’t do a very good job, having all my own old shynesses and especially my strange shyness of you – it was always like maybe you were going off in a taxi any minute and I’d never see you again, and had we ever known each other after all?..." (Joyce Johnson - Door Wide Open, pag.158)


so true,
 this feeling 'bout me and you.
speechless.
speech less.

"Fotografei você na sua Rolleiflex
Revelou-se a sua enorme ingratidão..."
me dilacero inteira.
procurando o que quero negar.
"A originalidade, é um questão de estômago" (Paul Valéry)
"tell all the truth but tell it slant" (emily dickinson)
take a walk on the wild side.
mais para comédia do que para drama.

(a propósito dos dois risos)

"Conceber o diabo como partidário do Mal e o anjo como um combatente do Bem é aceitar a demagogia dos anjos. As coisas são, evidentemente, mais complicadas.
Os anjos são partidários, não do Bem, mas da criação divina. O diabo, ao contrário, é aquele que recusa ao mundo divino um sentido racional.
O domínio do mundo, como se sabe, é dividido entre anjos e demônios. Contudo, o bem do mundo não implica que os anjos levem vantagem sobre os demônios (como eu pensava quando era criança), e sim que o poder de uns e de outros seja mais ou menos equilibrado. Se existe no mundo muito sentido indiscutível (o poder dos anjos), o homem sucumbe sob o seu peso. Se o mundo perde todo o sentido (o reino dos demônios), também não se pode viver.
As coisas, se provadas subitamente de seu suposto sentido, do lugar que lhes é destinado na ordem esperada das coisas (um marxista formado em Moscou acreditar em horóscopo), provocam em nós o riso. Em sua origem, o riso pertence portanto ao domínio do diabo. Existe alguma coisa de mau (as coisas de repente se revelam diferentes daquilo que pareciam ser), mas existe nele também uma parte de alívio salutar (as coisas são mais leves do que pareciam, elas nos deixam viver mais livremente, deixam de nos oprimir sob sua austera seriedade).
Quando ouviu pela primeira vez o riso do demônio, o anjo foi tomado de estupor. Isso se passou num festim, a sala estava cheia de gente e as pessoas foram dominadas umas após as outras pelo riso do diabo, que é horrivelmente contagiante. O anjo compreendeu claramente que esse riso era dirigido contra Deus e contra a dignidade de sua obra. Sabia que tinha de reagir rapidamente, de uma maneira ou de outra, mas sentia-se fraco e sem defesa. Não conseguindo inventar nada, imitou seu adversário. Abrindo a boca, emitiu sons entrecortados, descontínuos, em intervalos acima de seu registro vocal (era mais ou menos o mesmo som que Michèle e Gabrielle faziam numa rua de uma cidade da costa mediterrânea), mas dando-lhe um sentido oposto: Se o riso do diabo mostrava o absurdo das coisas, o do anjo, ao contrário, queria alegrar-se por tudo aqui embaixo ser bem ordenado, sabiamente concebido, bom e cheio de sentido.
Assim, o anjo e o diabo se enfrentavam e, mostrando a boca aberta, emitiam mais ou menos os mesmos sons, mas cada um expressava, com seu ruído, coisas absolutamente opostas. E o diabo olhava o anjo rir, e ria cada vez mais, cada vez melhor e cada vez mais francamente, porque o anjo rindo era infinitamente cômico.
Um riso ridículo é um desastre. No entanto, os anjos ainda assim obtiveram um resultado. Eles nos enganaram com uma impostura semântica. Para designar sua imitação do riso e o riso original (0 do diabo), existe apenas uma palavra. Hoje em dia nem nos damos conta de que a mesma manifestação exterior encobre duas atitudes interiores absolutamente opostas. Existem dois risos e não temos uma palavra para distingui-los" (O Livro do Riso e Do Esquecimento - Milan Kundera)

"because road is fast." (j.k.)
fim de um ciclo. sai em 13 de outubro. retorno agora. tudo o que vi e vivi em tantos lugares. tudo o que pensei. o que concluí. a praia de paracas. a praia de mancora. a praia de cartagena. as grandes edificações de mim mesma. para me colocar agora bem longe do mar. mas no meu porto. fim do ciclo. é hora de voltar a ter responsabilidades. é hora de escutar as palavras do taita mutumbahoy. para que nenhum homem me fira novamente com palavras.
"compreendia que o que dava a suas lembranças escritas sentido e valor era elas serem destinadas apenas a ela. no momento em que perdessem essa qualidade, o elo íntimo que a unia a elas seria rompido, e ela não poderia mais lê-las com seus próprios olhos, mas somente com os olhos do público que toma conhecimento de um documento sobre outra pessoa. então, mesmo aquela que as escrevera se tornaria outra, uma estranha. a semelhança acentuada que, apesar de tudo, subsistiria entre ela e a autora dos diários lhe daria a impressão de uma paródia, de uma zombaria. não, ela não poderia nunca mais ler seus diários se fossem lidos por olhos estranhos." (milan kundera)

Contrato nupcial

"digamos de outra maneira: toda relação amorosa repousa sobre convenções não escritas que aqueles que se amam estabelecem precipitadamente nas primeiras semanas de amor. Eles ainda estão numa espécie de sonho, mas ao mesmo tempo, sem sabe-lo, redigem como juristas rigorosos as cláusulas detalhadas de seu contrato. Oh, os amantes, sejam prudentes nesses perigosos primeiros dias! Se levarem para o outro o café-da-manhã na cama, terão de levá-lo para sempre, se não quiserem ser acusados de desamor e de traição."

(milan kundera)

7 22 30



hoje sonhei comigo mesma. eu me encontrando comigo mesma aos meus 7 anos. a menina de 22 ajudando a menininha de 7 a tirar o chiclete do cabelo. ai eu fiquei ali, me olhando correr por entre a sala, me olhando brincar. me olhando para ver e conhecer quem eu era, essa eu que não conheci porque não tinha consciência de mim. ai pensei: uma oportunidade unica para me dar um conselho. ai pensei de novo: não há nenhum conselho para dar, para essa menina de 7 ser a menina de 22 que sou agora é extremamente necessário que eu passe por tudo que eu passei, não há do que aconselhar nem prevenir. eu faria tudo da mesma maneira outra vez. ( um orgulho secreto da menina de 22 que sou agora, que irá se tornar uma mulher de 30, que veio da menininha de 7)

faltam 7.

eu admiro essas mulheres de 30.
e suas juventudes maduras.

eu admiro esses meninos de 30.
com seus filhos nos braços.


Eu fecho os olhos para dormir e me vem as ruas de Bogota, a cama de Quito, as tardes de Huacachina, a paquera em Arequipa, as estrelas no meio da estrada para Cusco, a delicia de Copacabana, a loucura de La Paz, a serenidade do Atacama. Quando, onde sera a minha proxima bolha onirica viajante?

uma verdade dita em outubro de 2008

"O ímpeto de crescer e viver intensamente foi tão forte em mim que não consegui resistir a ele. Enfrentei meus sentimentos. A vida não é racional; é louca e cheia de mágoa. Mas não quero viver comigo mesma. Quero paixão, prazer, barulho, bebedeira e todo o mal. Quero ouvir música rouca, ver rostos, roçar em corpos, beber um Benedictine ardente. Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas. Quero morder a vida e ser despedaçada por ela. Eu estava esperando. Esta é a hora da expansão, do viver verdadeiro. Todo o resto foi uma preparação. A verdade é que sou inconstante, com estímulos sensuais em muitas direções. Fiquei docemente adormecida por alguns séculos e entrei em erupção sem avisar."
"Nesses dias longinquos que rompera com Zdena ele experimentava o sentimento pertubador de uma imensa liberdade, e tudo de repente começava a dar certo para ele." (Milan Kundera)
vou viver um amor de verão.
hoje já me escrevo a passos certos de quem sou.
vou escrever na pele
agulha e sangue
para não esquecer

diário de quem foi

melhor do que ir, é voltar
la paz, quito, bogotá.
que importa se não tiver com quem compartilhar?

melhor do que ir é saber que posso voltar
para a casa dos amigos
que hoje já chamo de lar.



vi, senti e respirei Latinoamérica



88 dias, 29 cidades, 5 países
latinoamérica que me engole e me vomita.
Queimamos um boneco de papel cheio de polvora chamado Ano Velho, comemos 12 uvas e fizemos um pedido para cada mes, gritamos boas vindas para o Ano Novo, escrevemos o que queremos esquecer de 2011 num papel e o que queremos para 2012 em outro e queimamos, nos abracamos, rimos, fomos para a rua, tomamos uns chupitos, rimos, brincamos. E ja sinto toda a energia maravilhosa de 2012!