a vida borbulha
Desligar as emoções.
Ligar apenas os sentidos, sentimentos, sensações.

definição do problema

"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso."

(Caio Fernando Abreu)
menino do brilho nos olhos,

recebi suas palavras, duas mensagens mais precisamente.
tanta coisa lida e linda que me lembra você.
vou aos poucos vomitando palavras doces - vomitando, porque vai do meu mais íntimo - para dar gosto aos dias. doses homeopáticas para fazer bem.
ia te deixar outro escrito, mas vou trocar por um beijo de encontro e um abraço apertado, até sentir o mundo girar apenas para nós.

te espero com o coração pulsando forte!

sei que tudo tem um dedinho seu.

from ▲ chaos: Julho 2009:

fétido,

não queria ser cancêr, tumor ou aids. aqui nesta ruína com cheiro pútrido de comida esquecida deito minhas dores também pútridas. talvez este lugar abandonado me pertença, pertença à minha dor, esse fedor a adentrar minhas naridas sem que eu deixe. aqui parece esquecido, queria me esquecer. deixei muitas dores. quis eu ser flores e tenho sido apenas dores. dor aos pássaros e aos olhos claros. a beleza, e a tristeza, das coisas deve estar no fato de terminarem. paredes com buracos exatos. nunca fui exata na vida. geometria confusa das minhas ações, sentimentos, emoções. a paixão que gera a dor que deixo, em todos. em todos eles que idiotamente me conheceram, queria (...) deixar apenas saudades boas, ausências sentidas, falta apertada. o gesto de boca de peixe. a sina de trazer flores e deixar dores me confunde. evito o erro e cada vez erro mais. talvez um dia o próprio erro aprenda que só ele tem vez. flores e dores talvez porque seja eu intensa. só não sei se isso é bom ou ruim. a gente é melhor quando está morto.

formigável,
ser folha seca no mato.


amor urbano

"(...)e vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo louco, e vou dizendo longo sem pausa — gosto muito de você gosto muito de você gosto muito de você."

(Caio Fernando Abreu)

coração pulsando forte

Fiquei feliz em poder sentir tua falta, - a falta mostra o quão necessitamos de algo/alguém. É assim o nosso ciclo. Eu te preciso. Perto, longe, tanto faz. Preciso saber que tu está bem, se respira, se comeu ou tomou banho - com o calor que está fazendo neste verão, tome pelo menos uns três ao dia, e pense em mim, estou com calor também. Me faz bem pensar nessas atividades corriqueiras, que supostamente você está fazendo. Ah, e eu estou te esperando, com meu vestido curto, óculos escuros grandes e meu coração pulsando forte, e te abraçar até sentir o mundo girar apenas para nós. É, eu gosto muito de ti."

(caio fernando abreu)

a verdade por de trás da porta

"Pomba, só porque uma pessoa morreu não quer dizer que a gente tem que deixar de gostar dela... Principalmente se era mil vezes melhor do que as pessoas que a gente conhece e que estão vivas e tudo."

O Apanhador no Campo de Centeio, J. D. Salinger

Harriett

"sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo meu deus como você me doía vezenquando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando olhando e pensando meu deus ah meus como você me dói vezenquando"

(caio fernando abreu)
Ai que delícia viver isso tudo!
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos.
falácia.

Carta a Magno

(...) E ainda sim, ainda sim veja só o que nos tornamos. Dois estranhos um ao lado do outro, pelo medo do que se tem a dizer, pela responsabilidade das palavras que pode nos tirar desse nosso porto seguro que criamos para nos proteger de nós mesmo. De nós dois, proteger um do outro.
Tenho pensando em você mais do que de costume, há uma vontade de apenas te chamar para um café e conversar, conversar, conversar sobre tudo. Sobre todos aqueles hiatos de silêncio que carreguei por tanto tempo. Sobre filosofias ou filosofia nenhuma, sobre o nada, o tudo e o meio. Mas conversar é perigoso, podemos chegar a alguma conclusão, e bem sabemos qual é. E não queremos. Estamos, por hora, satisfeitos com o porto seguro que criamos.
Há o medo tremendo do que pode vir. O medo até mesmo das feridas abertas que insistem em não se cicatrizar.
"vou jogar óleo de linhaça em todas as minhas feridas abertas" (Caño, MAYRA. 2010)

Sempre fui egoísta, vivendo uma vida toda para dentro. Gastanto muito mais tempo nos meu pequenos projetos pessoais do que naquilo que talvez me faça ser quem preciso ser. Sempre fomos todos egoístas, procurando nos outros soluções e atitudes que satisfaçam as nossas lacunas. Amamos as outras pessoas não por quem são, mas pela maneira como ela nos faz sentir. Amamos as outras pessoas por aquilo que imaginamos e idealizamos que são. Fazendo deus de quem quiser, e monstro de quem menos nos interessar. Você mesmo por muitas vezes já foi monstro e deus, um deus-mosntro. Comecei a sentir saudade. Evitamo-nos, por mais que alguns pequenos encontros sejam inevitáveis. Por isso mesmo me proponho, às vezes, em provocar um. Te convidar para um passeio e para um sol. Consigo ver e sentir sua insegurança, o seu medo, o nervosismo em cada palavra silenciada. A verdade é que evito a conversa com medo de que confunda. Por agora, um nervosismo enorme atormenta minhas entranhas e o bambear das pernas me impede que eu corra. Ha um taquicardia doloroso. Não posso fujir, me entupir de alguma droga qualquer e sai por ai sem rumo. Minhas condições me obrigam a enfrentar a realidade, a encarar o problemas. Ou, no mínino, tentar minimiza-los, dar menos importância, fingir que não existem e assim continuar, nesse rio lento e curvo sem afluentes.

Já me diriam que a vida não é um sachê de chá, com fórmula pronta e sabores. Já me diriam tantas e tantas coisas.

Hoje pensei em escrever uma carta de suicídio. Começaria pedindo para que não levassem como suicidio em si, mas como desapego. Vivem dizendo para termos desapego. Mas desapego de que? É muito mais fácil pregar essa filosofia quando se tem do que se desapegar. Desapego de pobre é suicídio.
Quando pensei na carta me veio a responsabilidade, queria ter a genialidade de escrever apenas "fui como ervas e não me arrancaram". Mas, para a última coisa a ser escrita, espera-se algo grande, e não conseguiria cometer o ato até que algo, bem grandioso, fosse escrito por mim. Acabaria desistindo do suicidio por pura vaidade. Apenas para me tornar eterno no que vivo, escrevo e penso. Não conseguiria escrever a ultima carta, as ultimas linhas e as últimas palavras, pois ainda há muita coisa grandiosa que se passa e não consigo trasncrever em papel. Gravaria, se pudesse, o que penso. E penso em tanta coisa. Fiz mais Odisséias do que Eliadas, escrevi mais contos que todos, cantei mais musicas do que Buarque, fui mais artista do que qualquer Picasso. Quantos Césares fui, e mesmo assim, mesmo assim tudo se passa apenas nesse universo barato dessa vida pensada.

"Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada."

Vou escrever sobre isso. Um conto da pessoa que foi salva de seu suicidio por não conseguir terminar grandiosamente a carta, até que a morte, inocente pura e besta venha vestida de cetim.
Pura vaidade.

Mas não hoje.
Hoje quero a loucura dos pássaros e a sabedoria das árvores.

Quero um café e você, com seus olhos fugitivos, de companhia.
Essa vida é um drama barato.

Inteligência tem limites, burrice não.

A minha burrice ainda me permite continuar a insistir idiotamente no erro. No que vai me fuder ainda mais.
epifania.

Carta para mim, de Helena

"Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas"

(Caio Fernando Abreu)

creia

"Sabe bom velhinho. Eu sou poeta. Poeta é fraco, chora, tem medo de apanhar dos homens fortes, mas tem amor tanto amor recaldado que pode às vezes se suicidar por não achar lugar onde despejar seu amor. Velhinho! Creia no futuro."

(Jorge Mautner)

olhos fugitivos

A falta da sua saliva a umedecer o meu íntimo
O mordiscar de palavras ásperas
A lacuna do seu membro no interior de meu ventre
O escorrer do veneno no canto das palavras
A dor amarga do gostar inútil
O que deveria ser, não foi e é tudo.
"Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo, sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão é vera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos."

Abria-me ao sol

"(...)Desabotoado, o coração quase de fora, abria-me ao sol e aos jatos d'água.
Entrai com vossas paixões! Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei, qualquer um o sabe!
O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração - em todas as partes palpita."
(Miakovski)

The swee sweet life

Se a falta dói tanto em mim
imagine nessas outras tantas pessoas
o dedo sem esmalte
a boca de peixe
a transmutação confusa dos cabelos
o sorriso escondido

quero a sabedoria dos pássaros e das árvore
lidar com minha anatomia
que é toda coração.
inocência.
um poço idiota de inocência.

explicar a mim próprio

"São horas talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. Vejo-me no meio de um deserto imenso. Digo do que ontem literariamente fui, procuro explicar a mim próprio como cheguei aqui."

(Fernando Pessoa)

O Livro do Desassossego

"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância – irmãos siameses que não estão pegados."

(Fernando Pessoa)
Tenho sido constituída de saudade doloridas.
Perder o que nunca tivemos.