esperava avenca

"...você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente"

Caio Fernando Abreu

cheiro que não defino

"No fim destes dias encontrar você que me sorri, que me abre os braços, que me abençoa e passa a mão na minha cara marcada, na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar no fundo quente da curva do teu ombro. Mergulho no cheiro que não defino, você me embala dentro dos seus braços e você me beija e você me aperta e você me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem."

Caio Fernando Abreu

"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez."

Caio Fernando Abreu

Toquei nas feridas e elas sangraram.
Ainda sangram.
Há algo que ainda dói.

É preciso aprender a ser sozinha.

sol

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez"
Caio Fernando Abreu

passado próximo

"Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo. "

Caio Fernando Abreu
"Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim"

Caio Fernando Abreu

pássaro

"Você é meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio(...)"

Caio Fernando Abreu

sobre segredos

“Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio. (...)Guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.”

Caio Fernando Abreu
Há sempre uma chaga nova.
É preciso ir em busca da cura.

LORENA FOI EMBORA

"(...)Me confunde os sentidos tentar compreender como pessoas tão distantes atropelam a geografia para demonstrar que semprem estiveram próximas. É um alento saber que a Lorena foi embora... fez história onde menos esperava e segue viva na lembrança de outros sonhadores. Tudo isso renova o fôlego para a caminhada, a despeito de todos os problemas."



È tarde e o sol morre na contramão
Quem sabe a nuvem pare o avião
Que o desamparo leve a saudade
O meu amor foi solidariedade
Os meus joelhos estão bem cuidados
Eu vejo anões por todos os lados
A ironia ainda desafina
Cada cabeça, uma guilhotina
Minto quando eu quero
Como é fácil negar
Não me desespero
Se ainda posso fugir
Dissimular ou desistir
Tudo o que resta agora
Lorena foi embora..
"Deixa, se fosse sempre assim
Quente, deita aqui perto de mim
Tem dias, que tudo está em paz
E agora os dias são iguais..

Se fosse só sentir saudade
Mas tem sempre algo mais
Seja como for
É uma dor que dói no peito"

pequenos demônios

"E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: 'Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira!'. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderías: "Tu és um Deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?"

Nietzsche
Nosso maior pecado foi o tédio.

nib

"E foi aí que tive a certeza, que mesmo sobre todos aqueles sofrimentos eu tivera feito a escolha certa. Eu sabia que desde o começo o cara com que estou agora é o cara certo. Não para namorar por um tempo indetermindo, mas para estar por toda uma vida. Mas soube disso, somente quando, prematuramente, me entreguei a ele.
Eu tinha certeza que era ele, como sempre soube no meu íntimo que seria, pois ele me envolvia numa sensação mágica, de que cada minuto ao seu lado seria mágico, assim como foi. Eternizei cada segundo, porque tudo era uma experiência nova. Pela primeira vez na vida eu estava ao lado de um cara que tinha orgulho, que admirava, e que finalmente achava bom o bastante para mim, até mesmo, muito mais que o bastante. Agora era eu quem assumia, como já dito anteriormente, a posição inferior, era eu quem deveria mostrar merecedora dele, era eu quem não deveria ser infantil.
Eu envolvi nosso relacionamento num sonho mágico, da qual não queria despertar nunca.
Me sentia incomensuravelmente insegura, criança e infantil. Sofria por isso, e muitas vezes o ciúmes me assolou, ciúmes do passado, porque eu era virgem, pura, inexperiente, e sempre segui a risca todas as regras. E me sentia estúpida por isto. Tinha medo de ser enganada, traída, trocada, não sei. Porque me doei de mais para este romance, mudei todos os meus caminhos traçados, desesti de todo um percurso que eu estava fazendo para viver o que estava para viver agora, com um cara que admirava tanto, e que, com sua simples presença me dava um impacto absurdo. Muitas vezes, ao seu lado, não soube onde por as mãos, o que falar, fazer, ficava até certo modo me controlando para que ele não percebesse o quão sem graça eu era/sou. Eu tinha medo de fazer alguma coisa errada, e ele ver que eu não era capaz de fazê-lo feliz, embora eu fosse capaz de ser feliz apenas por estar ao lado dele.

A gente não tinha muito assunto, e para preencher o vazio, nos beijávamos. E até mesmo o beijo era diferente, totalmente diferente de todos os que já experimentara, e com o tempo incrivelmente bom, porque combinava com ele. Um beijo ímpar para uma pessoa ímpar. Um beijo carregado de carinho, atenção, e porque não: amor.
Ele começou, então, a fazer parte da minha vida para sempre, porque o que vivemos, esse 'mundo bolha-mágico', estará sempre comigo.

E é com lágrimas nos olhos que percebo agora, o quanto eu lhe quero bem, e o quanto eu estava certa, em saber, quando decidi que rumo tomar meus relacionamentos, que você seria sempre o homem capaz de me fazer feliz, por mais que muitas vezes eu tenha imaginado que a mágica tenha se acabado, você, com um sorriso e um abraço a trouxe de volta.
Eu colocaria a minha felicidade em jogo, pela sua. Como já o fiz, e por vezes continuo a fazer.

Talvez esse retrospecto tenha virado agora uma declaração que jamais será ouvida. Pelo menos jamais será entendida na essência de que deva ser, porque é assim, meio sem nexo, e por impulsos desconexos que vou escrevendo essas linhas. Mas nada disso importa, porque essas linhas, se forem lidas, terão apenas uma leitora: eu. E se por acaso mais alguém as ler, se sinta vangloriado, porque então, guarda dentro de ti um pouco de mim, este 'mim' que lê esta carta agora."
(dezembro/2006)


E é deste texto escrito em 2006 e publicado aqui que retomo para o ponto final.
Porque mesmo depois de tudo o que vivi as minhas palavras e meus sentimentos são os mesmos que me envolviam: você continua a ser o homem que tanto quero bem, o homem que amo e sempre amerei, e que me faz feliz, mesmo não estando comigo agora. É o homem que eu sinto ciumes, raiva, amor, desespero, saudade, angústia, felicidade, solidão, tristeza, tédio, alegria.
É o homem que conseguiu despertar em mim todos os sentimentos que uma pessoa poderia sentir. É o homem que amo. E amo tanto e tão profundamente que o deixei livre, porque eu não poderia mais te acompanhar, e você já não me acompanhava mais.

Antes interromper o processo no meio e ficar com uma coisa boa do que com a certeza de algo ruim.
Esse foi o homem da minha vida. Esses foram os anos, os 27 meses e 3 dias mais importantes e intensos que tive até então. Esse foi você e eu, vivendo o que achavamos ser bom e certo.
O amor não acabou e continuará em mim sempre. Então porque interrompi o processo?

"Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. "

E acabaria em dor, bem sei. E assim como foi mágico e perfeito o nosso início, queria que o final também fosse. Porque terminar em meio a mágoas e brigas quando poderíamos fazer com que o fim também fosse belo?
Eu o amarei para sempre. Embora saiba que o amor não acabou, as outras coisas essênciais foram morrendo aos poucos. Eu morri aos poucos, esqueci. Ele morreu, me esqueceu.
Já não havia expectativas, sonhos, confiança, risadas, cumplicidade, nostalgia, 'frio-na-barriga'. O que restara fora o amor e a comodidade.
Antes interromper o processo no meio e ficar com uma coisa boa, a certeza de que o amarei para sempre, e de que ele será para sempre o homem da minha vida. (mas é válido lembrar que o 'para sempre' não é todo dia)

E é sem poesia nenhuma, sem palavras bonitas e sem lágrimas que coloco aqui o meu ponto final.
Com alguma dor, profunda e dilacerante, que ainda hei de sentir. Uma dor que se tranformará em arrependimento na proxima vez em que eu o verei. Uma dor que, espero, se transforme na certeza de ter feito a coisa certa.
Não podia insistir em algo que eu saberia que não acabaria bem. Eu não poderia insistir no meu próprio fim.

"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."

E na novíssima leveza do ser, te amar eternamente. Como uma coisa boa.

Lorena Borges



...


É preciso colocar alguns pontos finais e virar a página.
Outra história nasce para ser contada.

morre de tédio

"o amor nunca morre de morte natural. morre porque nós não sabemos reabastecer sua fonte. morre de cegueira e dos erros e das traições. morre de doença e das feridas. morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho."

Caio Fernando Abreu

REBELDIA


Soltem-me
as algemas


Quero
a minha alma livre
meu corpo livre
meu pensamento livre


Esbofetear o mundo
e cuspir
na vida

Manuela Amaral

- Oi, tudo bem?
- Tudo Bem...
...Fora o tédio que me consome,
todas as 24 horas do dia,
fora a decepção de ontem a decepção de hoje,
e a desesperança crônica no amanhã,
tenho vontade de chorar,
raiva de não poder,
quero gritar até ficar rouco,
quero gritar até ficar louco,
isso sem contar com a ânsia de vômito,
reação a tal pergunta idiota
...Fora tudo isso, tudo bem.

Desconhecido

que é essa saudade toda?

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!”

Caio Fernando Abreu

Canção de saudade.



Tudo de alegrias e de tristezas conheci,
Coisas do amor e do sofrer, eu já senti,
Nada me transforma a alegria de viver,
Ver a noite vir e sorrir, ao sol nascer,
Vivo esperando o novo dia,
Que irá trazer a luz, que sempre ficará !

Cartola

Ácido

"O novo incomoda. Por quê? Porque desafia. Mas, queiram ou não, o novo sempre vem. E, para nossa felicidade, o novo geralmente vence. E, quando o novo vence, vence. A máquina do mundo gira melhor. Novos projetos deixam as tristezas numa agenda que não se abre mais. Novas crianças surgem para nos dar as mãos. Novos passos exigem de nós coragem. O novo é belo porque nos muda, nos leva a novas estações. O novo nos torna pessoas melhores porque nos torna novas pessoas. O novo é lindo. Assim como os sonhos, o novo não envelhece".

Um pierrot retrocesso, meio bossa-nova e rock´n roll...

Ácido.
E por vezes indigesto também.

Eu sou um ser humano ordinário. Um pacote de carne, água, sonhos, crenças, algumas qualidades, vários defeitos e vazios. Por vezes até um idiota, mas um idiota que tenta melhorar sempre que enxerga seus erros.

Eu?

Eu exponho meu modo, me mostro. Eu gosto de opostos. Amo mais quem me olha torto do que quem me sorri sorrisos cretinos. Estou de passagem, num olhar, num flerte, te conquisto e te descarto, meu papel é curto.

Não tenho tempo, nunca tenho tempo! Ele foge de mim como os pombos das praças fogem das crianças.

Louco.

Louco e livre.
Tal qual o vento.

Irremediavelmente perdido entre os parâmetros do bom senso que regem a ditadura da rotina e da hipocrisia cotidiana.

Irremediavelmente preso à ânsia pela liberdade. Falso humano, pelo menos no quesito humano de sempre buscar ser uma divindade. Resolvi investir o tempo que seria gasto ao tentar descobrir os mistérios da origem e do fim da vida no simples fato de tentar tornar a própria vida melhor.

Apaixonado pelo ato de engenhar, busco melhorar tudo por caminhos diversos, ainda que às vezes tropece e acabe, besta e estupefato, rindo descontroladamente do próprio tropeço. Sou otimista até o limite entre o otimismo e a estupidez, sou sincero até o tênue limite entre a sinceridade e a falta de bons modos. Sou hipócrita, como todos, imperfeito e por vezes mesquinho, como dizia um tal poema em linha reta.

Mas e daí?

Tudo oscila entre a necessidade do sentimento de pertencimento ao grupo e do sentimento de destaque. Em outras palavras: no fundo, todo mundo é diferente e é normal.

Todo mundo gosta mesmo é do comodismo corrosivo, dos colos quentes, das coxas grossas, da carne exposta. Todo mundo gosta mesmo do que se rasga, de ver os outros arriscarem, enquanto eles mesmos apenas mordem suas pipocas crocantes e barulhentas. E o que mais estimula a todos é achar que "todos" são apenas os outros, que eles mesmos, com seus pezinhos de ouro, estão mais limpos e cheirosos em seu pedestal.

Estou devendo cartas, várias cartas.

Leiam tudo como quiserem. Cada leitura é projeção da mente que lê, talvez mais até do que da que escreve. E este profile não é mais um cardápio do orkut, embora dizer isso, por si só, já o caracterize assim...


"...mas as pessoas da sala de jantar, mas as pessoas da sala de jantar, são ocupadas em nascer e morrer..."

Desconhecido
Aonde foi parar toda aquela paixão de outrora?