esse blog deveria se chamar era 'valvula de escape'
um amigo uma vez me disse que a hora de tudo é a hora em que acontece.
não ouso discordar.






não fiz a conta dos dias. do tempo. e me assusto ao olhar o calendário para medir o tempo. uma semana e já não terei rotina. duas semanas e já não terei porto seguro. o tempo que antes corria devagar agora corre rápido. o medo é de que não dê tempo do nosso caso começar antes desse tempo. será que se eu te chamar para um cinema você vai aceitar? o tempo ta sendo gentil. mas a gente também tem que ser gentil com o senhor tempo. um beijo. um abraço. um amor. tanto espaço e não me caibo. sufoco oco. e pergunto ao tempo quanto tempo tenho para dar o tempo do nosso tempo no tempo certo do tempo. 

meu tempo corre desmedido. pois meu amor não tem tempo. tem objeto direto e sujeito. meu amor não tem tempo, nem espaço, nem lugar. meu amor tem destinatário. meu amor, o tempo começa já.
e pode até levar um tempo
até que eu me sinta melhor
mudar a direção do vento
sentar e esperar é pior

"não é tão simples assim", alertou Dean. "a paz virá de repente, a gente não vai nem compreender quando acontecer - percebe, cara?" (on the road - jack kearouc)

verdade sentida

"I always felt that, in his own way, flawed as it might have been, Jack loved me as much as he could. And I think our relationship was one of the best relationships that he had. But he couldn't sustain a relationship, and I think I realised that even then. I had this sort of double-vision, even though I was quite young; if Jack had said, 'Let's get married!', I definitely would have done it, but I also knew, deep down, this wasn't for ever" (Joyce Johnson)
feito areia escorrendo pelos dedos.
lá se vão os sete aneis de saturno. lá se vai a sorte lançada ao vento, como a fumaça que solto de minha boca do cigarro que não fumei. lá se vai a sorte jogada ao vento, na esperaça que preencha esse vazio que sinto agora.

minor characters

não sei se eu lia o livro ou ele que me lia. joyce jonhson, vinte e dois anos, trabalhava para sustendar a vida sozinha, havia se deserdado ha uns anos, aos vinte e um conheceu kerouac, se apaixonou. lorena borges, vinte e dois anos, trabalhava para sustentar a vida sozinha, saiu de casa ha uns anos, aos vinte e um se apaixonou pelo seu kerouac, embora ele tivesse outro nome, jorge era seu equivalente em russo.  lia o livro que a lia. e bem sabia não era ficção. nos anos cinquenta um estranho romance que se repetiu cinquenta nos depois. e nos próximos cinquenta. o que nos espera? kerouac fez coisas acontecerem, encantou pessoas. jorge também. joyce nunca mais foi a mesma. lorena também não. algumas pessoas transformam quem fomos e somos. kerouac e jorge pegaram a estrada. a estrada de joyce foi a estranha vida que levava. vida esta que ela própria escolheu. lorena, ainda não se sabe, talvez vá embora, mas volta. kerouac viveu algo grande, assim como jorge. amou muitos e muitas, assim como jorge. joyce e kerouac tiveram muitas indas e vindas. lorena quer apenas as vindas. acredita-se que jorge também. kerouac, anjo desolado escreveu: 'joycey, the best love affair i ever had'. lorena prefere escrever a mesma frase no presente futuro próximo e deseja que jorge também. cinquenta anos para cá, cinquenta anos para lá. cinquenta oportunidades de fazer a mesma história com final diferente. seja como for, marcado na vida de joyce e de lorena há em cada uma o seu kerouac.
"I wonder how I'll wear my hair when I'm thirty"
(Elise Cohen)
Não me importa quantas tenha adentrado. Não me importa quantas sentiram o seu hálito. Não me importa com quem dividiu seu riso. Não me importa. Apenas repito a mim como em um mantra: confia. Seu cheiro sem cheiro que é um cheiro só meu. Suas pintas nas costas, fazendo constelações. Sua pele fresca. Seu olhos, que para mim olham cheio de segredos compartilhados. O calo do pé, feito um parque de diversões. As mãos que pintam, que gravam, que manipulam e que também me amam. Amaram. E confio, amarão. Seu cheiro sem cheiro que era um cheiro só meu que sinto falta todas as manhãs. Falta de acordar no olho do outro. A lacuna do seu membro no meu ventre. O salivar de palavras doces. Meu dedo que era seu. Assim como meu corpo, meus cabelos, meu intimo, meu amor que ainda o é. Mordiscar de brincadeiras. Não me importa com quem saia, o que faça, como se divirtas. Se for a minha pele adormecida que quer tocar quando acorda, se for a minha meninice que deseja quando está com tédio, eu confio. Feito mantra eu repito: confia. E mais que confiar eu acredito. Pois duas pessoas quando se desejam sempre acham o caminho de volta.   
é tanto amor, sincero, profundo e forte que não cabe espaço para mais nada. talvez apenas para a saudade.
e procuro você debilmente na minha cama todas as manhãs.

"Este é o trigésimo dia. O ciclo está completo e não encontrei o Leopardo dos Mares. Já não sei ao certo se alguém me contou, se leram nas cartas, nas runas, mas estava certo de que ele estaria aqui e só por isso vim. Procurei-o no porto, nos cafés, na praia, pelas esquinas e barcos. Olhei tudo e todos muito atentamente. Sei que o identificaria por aquela tatuagem no braço esquerdo - um leopardo dourado saltando sobre sete ondas verdes espumantes. E mesmo que fizesse frio e eu não pudesse ver seus braços, reconheceria de longe seus olhos de jade. E, se usasse óculos escuros, eu assobiaria aquela canção até que me escutasse. Sem ele, não vejo sentido em continuar nesta cidade. Que todos me perdoem, mas escrever agora é recolher vestígios do impossível. Para encontrá-lo, e isso é tudo o que me importa, eu parto."

veio caio fernando vomitar em mim a verdade sentida.
ando sentindo mesmo
é uma puta duma saudade

acordei de sonhos intranquilos.

sonhei sonhos intranquilos. um novo motivo, um nome, uma desconectar de almas, uma pontada no peito. acordei. e assim que acordei o telefone tocou, eu acabara de ter um sonho premonitorio e já sabia. encontramos. e tudo o que eu havia sonhado era de fato real. um motivo, juliana da joalheria, moça bonita de cabelos curtos, beijava bem. então um pedido de apagarmos os planos que fizéramos de um dia dois virar um e virar três. o detalhe de ja ter sonhado e já saber o que me esperava não fez soar menos estranho, mas sabia debilmente como agir. o fato é que acordei de novo. um sonho dentro de outro. e agora não tive telefonena, nem mensagem, nem sinal de fumaça para me mostrar essa tal juliana da joalheria, roubando meu conto de fadas. talvez o motivo seja outro. talvez seja só sonho.

acordei de sonhos intranquilos.
intranquila.






como diria Ginsberg: me apaixonei por Kerouac.

Pé na estrada

"Quando a gente passa as férias viajando de moto, vê as coisas de um jeito completamente diferente. De carro a gente está sempre confinada, e como já estamos acostumados, nem notamos que tudo que vemos pela janela não passa de mais um programa de televisão. Sentimo-nos como um espectador, a paisagem fica passando monotonamente na tela, fora do nosso alcance. Já na motocicleta, não há limites. Fica-se inteiramente em contato com a paisagem. A gente faz parte da cena, não fica mais só assistindo, e a sensação de estar presente é esmagadora. Aquele concreto zunindo a uns quinze centímetros da sola dos pés é real, é o chão onde se pisa, está bem ali, tão indistinto devido à velocidade que nem se pode fixar a vista nele; e, no entanto, para tocá-lo basta esticar o pé. A gente nunca se desliga daquilo que está acontecendo"

(Robert Pirsig - Zen e a arte da manutenção de motocicletas)
meu próprio pai era um beatnik!