"compreendia que o que dava a suas lembranças escritas sentido e valor era elas serem destinadas apenas a ela. no momento em que perdessem essa qualidade, o elo íntimo que a unia a elas seria rompido, e ela não poderia mais lê-las com seus próprios olhos, mas somente com os olhos do público que toma conhecimento de um documento sobre outra pessoa. então, mesmo aquela que as escrevera se tornaria outra, uma estranha. a semelhança acentuada que, apesar de tudo, subsistiria entre ela e a autora dos diários lhe daria a impressão de uma paródia, de uma zombaria. não, ela não poderia nunca mais ler seus diários se fossem lidos por olhos estranhos." (milan kundera)