Retrospecto. É isso que tem se passado em minha mente.
Tenho pensando em tudo o que eu vivi neste ano. É estranho você analisar a sua vida como um estranho, mas é isto que tenho feito. Cada imagem gravada e que agora volto a recordar me mostra novos ângulos de tudo o que vivi, é como se eu estivesse revivendo aqueles momentos, o que, muitas vezes me enche de dor, porém houve também a alegria e a magia. Lembro de cada sentimento que me envolveu este ano, e eu vivi como nunca, creio que eu soube aproveitar cada segundo, fui mais eu. Isso, claro, me enche de orgulho, por ter sido eu, unicamente eu, responsável pelo meus atos e atitudes. Claro que amigos me ajudaram, e eles estiveram presentes neste ano mais do que nunca.
Os encontros na praça, os segredos, o primeiro carnaval onde aproveitei como todo jovem da minha idade costuma aproveitar. É até estranho fazer esta observação, porque eu, embora jovem, vivo e sempre vivi em um mundo à parte; isso as vezes me dói, pois vejo que sou completamente diferente de todos ao meu redor, sempre fui. Todas as garotas se sentavam em rodinhas depois de festas para comentar que ficou com Fulano, que achava Ciclano bonito, que Deltrana garrou o Beltrano; mas eu sempre achei isto muito ridículo, tanto que saída destas rodinahs e ia brincar com os meninos de açolgue, queimada, pega-pega, polícia-e-ladrão, conversar sobre Cavaleiros do Zodiaco, sei la... acho que sempre fui mais homem do que mulher :P Por isso achei estranho, que no carnaval deste ano eu fui exatamente igual as garotas, a não ser pelo fato de ter bebido pela primeira vez (porque a maioria ja fazia isso há muito tempo), mas fora isso, fui igual, semelhante, bebi, dancei, ri, fofoquei, fiquei, paquerei e fui paquerada. E como!
Me lembro agora que nesta época estava mais feliz do que nunca solteira, estava sabendo aproveitar aquela vida, saia com meus amigos, sem hora de chegar e sem ter que dar muitas satisfações a ninguém, falava besteira (não que eu não fale agora), e estava sendo paquerada, gostava de um que nem mesmo eu conhecia e nem mesmo morava no mesmo estado, era a única pessoa que me 'amarrava', um amarrar falso, claro! Ele não precisava saber que enquanto eu lhe prometia meu coração, meu corpo estava se entregando a outro.
Lembrando dessas coisas, parece até que aconteceram em outra vida, foi há tanto tempo, mas logo se vê que também não foi ha tanto tempo assim... há alguns meses apenas.
Assim como eu vivi de mais, fui eternamente feliz eu também sofri, e como nunca imaginei que sofreria (não que me arrependa de ter passado por tudo o que passei, pois a felicidade que tenho agora creio eu ser muito maior que o sofrimento em que passei).
Gostava de um garoto, que imagina eu, nem sabia que eu existia, mas comecei a sair com outro, no começo pela falta do que fazer mesmo, mas depois comecei a me interessar de verdade. Gostava de estar com ele, conversar, ele me fazia rir, me ariscar, me mostrou o lado mais obscuro da adolescencia e a curiosidade desenfreada, éramos amigos e cúmplices, e eu estava realmente gostando dele, embora soubesse o quanto idiota ele poderia ser. E do mesmo modo que sabia o quanto idiota ele poderia ser, sabia que se aceitasse o seu pedido de namoro eu iria viver o mesmo namoro que eu havia terminado. Ia ter um namorado que eu sentisse vergonha, e eu bem sei, que não suportaria isto de novo, até porque era duro até mesmo pra mim saber que eu sentia vergonha de uma pessoa que deveria sentir orgulho. Achava-o pouco para mim, confesso, infantil. Deve ter sido por esta conciência de que, mesmo gostando dele, ele não seria capaz de me fazer feliz, porque cairia num relacionamento que eu sabia como iria ser, ja havia vivido aquilo. Foi a época mais confusa de minha vida.
Creio eu que qualquer garota ficaria felicíssima de saber que possuia quatro garotos que estavam realmente afim dela, mas eu sofri com isso. Muito. Havia o que nem mesmo morava aqui, mas que amava; outro que eu ficava, e estava começando a gostar; um que também se interessou loucamente por mim, e era interessante admito, mas creio ter chegado em hora tardia; e aquele a quem pertenço agora, que eu nem sabia o que ele sentia por mim na época, por mim era apenas um menino para se sonhar,um sonho, um quadro para se por na parede e admirar, na realidade, a réplica do quadro, porque o original seria muito valioso para mim. E assim como eu sentia que o outro era pouco para mim, eu sentia que eu era pouca para este. Agora era a minha vez de me sentir infantil e idiota.
Sofri muito nesta época porque descobri, que este menino dos meus sonhos gostava de mim. Quando soube isso, eu fiquei completamente desnorteada. Não sabia o que fazer, havia aceitado o convite de namorar com o cortador de língua,e agora acabara de descobrirque quem eu tanto sonhava, queria uma chance comigo. Eu fiquei louca, foi o domingo mais longo do qual vivi. Subi para a casa de um amigo e fui conversar com ele, pedir conselho; na conversa me decidira em ficar com quem já estava mesmo, pois entre nós havia assunto, cumplicidade. Mas, justo naquele dia ele pisou na bola comigo. Tentou me controlar e me fazer sentir culpada por estar rindo.
Podem até brigar comigo por estar triste, mas nunca por que eu estou sorrindo, feliz, contente.
Ele pisou na bola no momento crucial, e tentei terminar com ele, na verdade não consegui, porque ainda gostava muito dele, mas demos um tempo.
Confesso que era até mesmo uma jogada pra saber qual era a do outro. E meu professor e amigo me ajudou, aliás, ele quem aconselhou essa "jogada" (embroa não goste de nomear assim).
Mas para mim, 'pedir um tempo' nunca existiu. Tempo não existe em um relacionamento, porque é meio termo, e eu abomino meios-termos. Ou é, ou não é. Por isso o que acontecia entre eu e o poser já não era mais, eu sabia disso, mas não queria admitir, porque me doía.
E me doeu ainda por muito tempo, mas assim como a gente aprender a gostar, a gente também aprende a desgostar. Sofri porque ele me fez odiá-lo, me fez ter que humilha-lo, me fez sentir raiva, me fez chorar, sofrer, forçar coisas que já estavam acabadas. Me fez sofrer porque em seus atos eu só via a possibilidade de me afastar dele, me distanciar, me fez ver que com todas aquelas ações, imposições que ele tentava fazer, perseguições (sim, ele me perseguia, me ligava o tempo inteiro, tentava me agarrar) que e eu não suportava aquilo - odiei-o.
E foi aí que tive a certeza, que mesmo sobre todos aqueles sofrimentos eu tivera feito a escolha certa. Eu sabia que desde o começo o cara com que estou agora é o cara certo. Não para namorar por um tempo indetermindo, mas para estar por toda uma vida. Mas soube disso, somente quando, prematuramente, me entreguei a ele.
Eu tinha certeza que era ele, como sempre soube no meu íntimo que seria, pois ele me envolvia numa sensação mágica, de que cada minuto ao seu lado seria mágico, assim como foi. Eternizei cada segundo, porque tudo era uma experiência nova. Pela primeira vez na vida eu estava ao lado de um cara que tinha orgulho, que admirava, e que finalmente achava bom o bastante para mim, até mesmo, muito mais que o bastante. Agora era eu quem assumia, como já dito anteriormente, a posição inferior, era eu quem deveria mostrar merecedora dele, era eu quem não deveria ser infantil.
Eu envolvi nosso relacionamento num sonho mágica, da qual não queria despertar nunca.
Me sentia incomensuravelmente insegura, criança e infantil. Sofria por isso, e muitas vezes o ciúmes me assolou, ciúmes do passado, porque eu era virgem, pura, inexperiente, e sempre segui a risca todas as regras. E me sentia estúpida por isto. Tinha medo de ser enganada, traída, trocada, não sei. Porque me doei de mais para este romance, mudei todos os meus caminhos traçados, desesti de todo um percurso que eu estava fazendo para viver o que estava para viver agora, com um cara que admirava tanto, e que, com sua simples presença me dava um impacto absurdo. Muitas vezes, ao seu lado, não soube onde por as mãos, o que falar, fazer, ficava até certo modo me controlando para que ele não percebesse o quão sem graça eu era/sou. Eu tinha medo de fazer alguma coisa errada, e ele ver que eu não era capaz de faze-lo feliz, embora eu fosse capaz de ser feliz apenas por estar ao lado dele.
Agente não tinha muito assunto, e para preencher o vazio, nos beijávamos. E até mesmo o beijo era diferente, totalmente diferente de todos os que ja experimentara, e com o tempo incrivelmente bom, porque combinava com ele. Um beijo ímpar para uma pessoa ímpar. Um beijo carregado de carinho, atenção, e porque não: amor.
Ele começou então a fazer parte da minha vida, para sempre, porque o que vivemos, esse 'mundo bolha-mágico' estará sempre comigo.
E é com lágrimas nos olhos que percebo agora, o quanto eu lhe quero bem, e o quanto eu estava certa, em saber, quando decidi que rumo tomar meus relacionamentos, que você seria sempre o homem capaz de me fazer feliz, por mais que muitas vezes eu tenha imaginado que a mágica tenha se acabado, você, com um sorriso e um abraço a trouxe de volta.
Eu colocaria a minha felicidade em jogo, pela sua. Como já o fiz, e por vezes continuo a fazer.
Talvez esse retrospecto tenha virado agora uma declaração que jamais será ouvida. Pelo menos jamais será entendida na essência de que deva ser, porque é assim, meio sem nexo, e por impulsos desconexos que vou escrevendo essas linhas. Mas nada disso importa, porque essas linhas, se forem lidas, terão apenas uma leitora: eu. E se por acaso mais alguém as ler, se sinta vangloriado, porque então, guarda dentro de ti um pouco de mim, este 'mim' que lê esta carta agora.
Lorena Borges