Carta à Laryssa

(...)A verdade é que somos um, para cada um que nos conhece. Não há nada além das nossas vontades. O universo é só este da minha vida pensanda. Quantos universos existem! E quais são reais? Não ha realidade, pois há tantas realidades quanto mentes-para-si-pensando. Há apenas vontades. Como essa vontade de lhe escrever agora sem nexo, de deixar que uma linguagem vulgar e incompleta diga por mim o que na verdade não pode ser verbalizado. Há sempre o erro da verbalização, o erro do tentar inutil da linguagem dubia de dizer aquilo que são formas, sentimentos e expressões, que são substantivos altamente abstratos, não verbos, locuções nem sequer adjetivos. Há sempre o erro das vontades, e a vontade sobre os erros. Somos talvez isso. A tentativa de alguma coisa qualquer. Os inúmeros projetos que deixamos inacabados. Sou um acúmulo de projetos inacabados, pois estou também inacabada. Em construção do meu eu. Em processo de mudança, reconhecimento e construção. Me sinto velha. Idiotamente velha. Sinto uma urgência enorme nas coisas. Há algo por vir e sinto que devo me preparar. Tenho que correr atrás do tempo perdido que gastei com coisas inúteis. Sinto necessidade de sugar toda e qualquer forma de conhecimento que tiver alcance. Ler livros que me façam pensar, escutar musicas, ver filmes e viver tudo isso. Experimentar. Quero provar de todos os gostos, de todos os lugares, de todas as bebidas, e quiçá de todas as drogas. Quero o acúmulo máximo de experiência. Mas não quero o vislumbre, o olhar idiota, inocente e vazio das pessoas vislumbradas. Quero a sabedoria certa, consciente. Há uma necessidade, uma urgência enorme de se preparar para algo que esta por vir. Me sinto velha e atrasada. Sinto que perdi muito de meu tempo com coisas inúteis, e agora cada segundo é precioso demais para usá-los com o que não me acrescente. É preciso ir em busca da cura. Da cura do pensamento. Tudo tem gerado em torno da intelectualidade. Tenho me tornado mais culta, lido e prestado mais atenção. Tenho me calado mais do que nunca, para absorver com toda sordidez tudo aquilo que me é falado, ensinado e mostrado. E tenho me sentido idiota quando falo, minha voz parece burra, inexperiênte e exitante, quando em minha vida vivida tenho tido mais certezas do que nunca, tenho sido mais firme que qualquer Hittler. É essa linguagem dubia e falha que traz à fala toda a exitação que não ocorre na mente, pois há apenas ideias, desprovidas de sintaxe. Há apenas a semântica, o significado real das coisas sem que elas precisem se organizar. Há algo acontecendo, e eu não posso supor o que é. Mas é bom estar participando disso tudo. Embora às vezes doa.

Amadurecer é amargo e envelhece.
Mas a velhice nem sempre é amarga, há sempre uma doçura em alguma coisa qualquer.

Lorena Borges